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    Veja seis sugestões de filmes estrangeiros do "Guia"

    DE SÃO PAULO

    29/08/2015 02h00

    CONTO DE INVERNO

    O público desabituado aos filmes do diretor francês Éric Rohmer costuma ter a impressão de que seus personagens falam demais e de que pouco ou nada acontece em suas histórias, sempre relacionadas a indefinições amorosas.

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    Conto de Inverno

    Em "Conto de Inverno", segundo longa de uma série que Rohmer filmou entre 1990 e 1998 com situações relacionadas às quatro estações, há um prólogo e um epílogo em que a ação se acelera, enquanto o filme quase todo é feito de diálogos excessivos da protagonista com dois parceiros. Os temas das conversas são dúvidas aparentemente banais sobre escolhas e trazem para o chão as especulações dos personagens intelectualizados, uma afetação tipicamente francesa que Rohmer retrata com ironia. As oscilações de humor e de afeto passam quase despercebidas, já que Rohmer filma como um meteorologista observa microtransições climáticas. Nessas condições em que tudo parece comum demais, quando algo acontece, seu cinema nos revela que o extraordinário não tem nada de incomum. (CÁSSIO STARLING CARLOS)


    DIRETOR: Éric Rohmer
    DISTRIBUIDORA: Signature Pictures
    QUANTO: R$ 38,90
    AVALIAÇÃO: ótimo

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    Close up

    CLOSE-UP

    Fundamental o lançamento desta obra-prima de Abbas Kiarostami, de 1990. Jean-Claude Bernardet (em "Caminhos de Kiarostami") dedicou-se ao instigante diálogo com este e outros de seus filmes. A radical indiscernibilidade entre ficção e documentário que permeia esta obra ilumina nossa compreensão do cinema como um todo.

    Kiarostami desenvolve surpreendente e emocionante jogo de variações a partir (por dentro, seria mais acertado dizer) de episódio pinçado, no calor da hora, do "fait divers" iraniano: um homem pobre e desempregado -mas legítimo conhecedor e amante do cinema de seu país- é confundido na rua com o cineasta Mohsen Makhmalbaf e acaba por se fazer passar por ele junto à família, que chega a recebê-lo como hóspede: nesse equívoco, sua vida, como irá afirmar, parece, finalmente, encontrar sentido. Denunciado e preso, será procurado por Kiarostami para que possa, no encontro agora efetivo com o cinema, recriar (mais: transformar) sua dolorosa experiência em vida proveitosa. (ROBERTO ALVES)


    DIRETOR: Abbas Kiarostami
    DISTRIBUIDORA: Magnus Opus
    QUANTO: R$ 38,90
    AVALIAÇÃO: ótimo

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    A Árvore da Vida

    A ÁRVORE DA VIDA

    Não confundir com a presepada de Terrence Malick. Este "A Árvore da Vida" (1957) é melhor e bem anterior. Dirigido por Edward Dmytryk e baseado em romance de Ross Lockridge Jr., é uma mistura de "Um Lugar ao Sol" (George Stevens, 1951) com "De Repente no Último Verão" (Joseph L. Mankiewicz, 1959). Na verdade, termina sendo uma versão mais pobre de "E o Vento Levou" (Victor Fleming, 1939), feita pelo mesmo estúdio, a Metro Goldwyn Mayer, quase 20 anos depois.

    Montgomery Clift é Johnny, o poeta e professor que, embora comprometido informalmente com a namorada de infância Nell (Eva Marie Saint), se apaixona pela sulista Susana (Elizabeth Taylor). Não é só a Guerra Civil Americana que vai impor obstáculos a essa relação, mas também os traumas profundos de Susana, que insistem em voltar.

    A mise-en-scène correta de Dmytryk compensa em parte os exageros do livro de Lockridge e o peso da produção da MGM, com seu excesso de música durante os diálogos. (SÉRGIO ALPENDRE)


    DIRETOR: Edward Dmytryk
    DISTRIBUIDORA: Classicline
    QUANTO: R$ 29,90
    AVALIAÇÃO: bom

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    Isadora

    ISADORA

    Nascido na antiga Tchecoslováquia, Karel Reisz (1926-2002) participou, com "Tudo Começou num Sábado" (1960), do Free Cinema, movimento inglês de cinema moderno. Entretanto, sua melhor fase é justamente em Hollywood, quando realizou os notáveis "O Jogador" (1974) e "Who'll Stop the Rain" (1978). O filme anterior a essa fase é "Isadora", biografia da dançarina Isadora Duncan (1878-1927), com Vanessa Redgrave no papel principal.

    Sua direção é sempre elegante, respeitando o tempo da atriz e de seus movimentos sem cair desnecessariamente em acelerações típicas desse tipo de filme biográfico. Os maiores méritos, contudo, são de Redgrave. Como a dançarina, mulher de atitudes avançadas para a época, a atriz inglesa, que nunca esteve tão bela diante de uma câmera, tem o papel de sua vida.

    A estrutura é toda construída em flashbacks, tendo o último ano de vida da dançarina como ponto de retorno. Pelas idas e vindas no tempo, sabemos um pouco mais de sua carreira, seus amores e sua postura radicalmente livre e hedonista. (SÉRGIO ALPENDRE)


    DIRETOR Karel Reisz
    DISTRIBUIDORA Classicline
    QUANTO R$ 29,90
    AVALIAÇÃO: muito bom

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    Gêmeos

    GÊMEOS - MÓRBIDA SEMELHANÇA

    Quem nunca viu histórias de gêmeos com comportamentos avessos em filmes ou novelas? Cronenberg incorporou esse tema clássico num momento em que sua filmografia se transformava, passando do desagradável horror físico (a fase "cronenbleargh") a variações do tema da mutação no universo mental, amplificando a receptividade de seu nome pelo público do cinema autoral.

    Os gêmeos Mantle são como sinais invertidos de uma personalidade. Não o bom e o mau, mas o ativo e o passivo, o extrovertido e o introvertido, o aventureiro e o tímido. Quando a tranquilidade fusional deles é interrompida pela entrada em cena de uma atriz com a qual um transa e o outro se apaixona, Cronenberg mergulha nos subterrâneos da identidade jogando com a inquietante hipótese do si mesmo fora de si. A tragédia inelutável, que o diretor filma com seu estilo gélido, ganha o reforço da atuação dupla plena de nuances de Jeremy Irons. A expressão obra-prima ficou gasta, mas ainda não inventamos outra para descrever o impacto de um filme como esse. (CÁSSIO STARLING CARLOS)


    DIRETOR: David Cronenberg
    DISTRIBUIDORA: Versátil
    QUANTO: R$ 39,90
    AVALIAÇÃO: ótimo

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    Procurando Sugar Man

    PROCURANDO SUGAR MAN

    Este documentário, vencedor do Oscar em 2013 -primeiro e único filme dirigido pelo sueco Malik Bendjelloul (1977-2014)- guarda valor precioso para o gênero: descobre e remonta, com especial sensibilidade, personagem e história dignos de quase inverossímil ficção.

    Trata-se da trajetória do cantor folk americano Sixto Rodriguez, que lançou, sem nenhuma repercussão, dois discos no início dos anos 1970 e retirou-se do meio artístico para viver modestamente da demolição e reforma de casas em Detroit. O fato é que Rodriguez, sem ter conhecimento, fez enorme sucesso na África do Sul, onde suas belas canções "anti-establishment" (como "Sugar Man") se tornaram referências na luta contra o governo autoritário e o apartheid. A longa investigação dos fãs que o supunham morto acabará por levá-lo ao país, em 1998, em emocionante turnê.

    O filme desestabiliza nossas precárias noções de sucesso e fracasso ao centrar-se na manutenção da integridade humana e artística de Rodriguez. (ROBERTO ALVES)


    DIRETOR: Malik Bendjelloul
    DISTRIBUIDORA: Versátil
    QUANTO: R$ 39,90
    AVALIAÇÃO: ótimo

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