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    "O mundo de Anne Frank" e mais três indicações de livros infanto-juvenis

    DE SÃO PAULO

    29/08/2015 02h00

    A FADA ORIANA

    Talvez seja parte do estereótipo das fadas serem bondosas, representação ficcional das virtudes que imaginamos tornarem os seres humanos melhores, o que no mínimo remete a um desejo, ou ideal, arquetípico. Em oposição às bruxas, que erroneamente são associadas ao lado obscuro e malfazejo da magia, às fadinhas caberia praticar somente boas ações, como acontece com a personagem Oriana, da escritora portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004).

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    O papel de Oriana no conto de Andresen é o de protetora da floresta e de seus habitantes, amiga do poeta e das coisas, que a tratavam como membro da família. Traída pela vaidade e enfeitiçada com a própria beleza, ela perde os poderes e vê tudo ao redor fenecer, seus entes queridos a abandonam, até descobrir que existe também a rainha das fadas más, pronta para "desencantar o mundo".

    A prosa elegante de Andresen ensina aos pequenos leitores que as duas fases da vida de Oriana são parte de nossa existência, numa disputa de forças permanente, e que pode valer a pena escutar o poeta. (REYNALDO DAMAZIO)

    AUTOR: Sophia de Mello Breyner Andresen
    ILUSTRAÇÕES: Veridiana Scarpelli
    EDITORA: Cosac Naify
    QUANTO: R$ 34,90 (95 págs.)
    AVALIAÇÃO: Muito bom

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    LULI, UMA GATINHA DE CIDADE

    Os humanos inventaram cotidianos para seus bichos que até Deus duvida. Sobretudo nas cidades. Portas fechadas, noitadas diante da TV, motores eternamente barulhentos. Elevadores e crianças com tendências à crueldade. A gatinha Luli, após exercitar sua paciência até onde dá, sai do apartamento em que tenta viver e vai para o campo.

    Lá, além da anta, do puma e das jararacas, conhece um gato selvagem e o batiza de Morrongo. É ele quem a protege e desafia na nova vida, na qual, de todas as belezas, destaca-se a liberdade. De ir e vir, respirar e contemplar, encontrar o próprio alimento e escapar das ameaças naturais.

    Ao resgatar essa versão original dos fatos, o argentino Mempo Giardinelli cria uma história poética e engraçada, permitindo-se de forma muito delicada questionar os desmando da civilização humana —e sua estranha autoridade sobre as outras espécies. Plantando assim uma saudável dúvida nos mais inocentes corações. (VIVIEN LANDO)

    AUTOR: Mempo Giardinelli
    ILUSTRAÇÕES: Luísa Amoroso
    TRADUÇÃO: Eric Nepomuceno
    EDITORA: Terceiro Nome
    QUANTO: R$ 30 (47 págs.)
    AVALIAÇÃO: Muito bom

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    SENHOR G.

    Todo o mundo gostaria de ter um vizinho como o senhor G.: gentil, educado e atencioso com todos. Mesmo morando num pequeno povoado no meio do deserto. Seco e silencioso. Como se não bastasse, esse maravilhoso cidadão decide um dia semear uma planta no meio daquele nada e, privando-se de metade da água, rega a semente, adubando-a com as cascas das frutas que come.

    Dedicação e paciência transformam-se logo num broto, que explode numa árvore especial, atraindo bandos de pássaros canoros e gulosos. Então, do silêncio e da aridez nascem a música e a sombra que encantam todos os moradores -plateia feliz do concerto para mil pássaros e uma planta no deserto.

    O ilustrador e artista plástico argentino Gustavo Roldán faz um movimento parecido no espaço branco de um livro por nascer. Suas geniais ilustrações, tão bem integradas ao próprio texto, irradiam ideais, poesia e alegria para os leitores -de todas as idades. (VIVIEN LANDO)

    AUTOR: Gustavo Roldán
    EDITORA: SM
    TRADUÇÃO: Graziela R.S. Costa Pinto
    QUANTO: R$ 28 (40 págs.)
    AVALIAÇÃO: Muito bom

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    O MUNDO DE ANNE FRANK

    Não poderia ser uma história de superação porque a situação era insuperável. A vida de uma pré-adolescente (naquele tempo a adolescência começava um pouco mais tarde) no meio do inferno que foi a Europa invadida durante a Segunda Guerra é quase inimaginável. Aí entra Anne Frank, uma judia alemã que em 1939 já morava com a família em Amsterdã.

    Sociável e faladora, descobre-se escritora quando o silêncio era sobrevida e a falta de interlocutores, uma segurança. Obrigada a viver por anos num abrigo anexo ao escritório de seu pai, foi transportada com a família para o campo de Westerbork —e a seguir Auschwitz e Bergen-Belsen, onde chegou somente com a irmã mais velha.

    Mas é, sim, uma história de enormes capacidades de adaptação, matéria em que os seres humanos ali envolvidos se especializaram. A contemplação da natureza, o encontro com a alegria "de dentro", a valorização de cada alívio são presentes tanto no famoso "Diário de Anne Frank" quanto neste livro de Janny van der Molen (que está no Café Amsterdã, encontro com escritores holandeses que acontece em São Paulo até 30 de agosto, e Rio de Janeiro, de 31 de agosto a 3 de setembro). A jornalista holandesa tenta traduzir o modelo original para os leitores mais jovens, sem esquecer de contextualizar a situação geral da tragédia.

    O livro de Anne Frank tornou-se relíquia da triste memória do período, graças aos esforços de seu pai para publicar o diário da filha já morta. E deu oportunidade às gerações posteriores de assistirem, através das lentes inocentes e perplexas, ao tamanho da incoerência e da brutalidade nazistas. "O Mundo de Anne Frank" procura prolongar a função. (VIVIEN LANDO)

    AUTORA: Janny van der Molen
    ILUSTRAÇÕES: Martijn van der Linden
    TRADUÇÃO: Alexandra de Vries
    EDITORA: Rocco
    QUANTO: R$ 34,50 (184 págs.)
    AVALIAÇÃO: Bom

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