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    Confira três indicações de livros de filosofia

    DE SÃO PAULO

    29/08/2015 02h00

    A UTILIDADE DO CONHECIMENTO

    Os ensaios reunidos pelo linguista, poeta e professor Carlos Vogt perfazem como que uma cruzada iluminista, revista e atualizada, em defesa do conhecimento como forma de melhorar eticamente o mundo e torná-lo sustentável.

    Se estiver correta sua hipótese de que a utilidade do pensamento se dá pelo alcance de nossa capacidade ilimitada de formular perguntas, talvez seja possível "transformar o conhecimento em valor econômico e social", ou equilibrar o uso da tecnologia com as demandas ecológicas.

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    A busca por respostas que conduzam a uma ação consciente e que resultem em ambiente histórico menos nocivo ao humano, nos textos de Vogt, não se limita a um conceito pragmático do saber ou a um método científico, mas se espraia pela cultura, pela língua, pela semiótica, pela literatura, pelos quadrinhos, pela música, como num roteiro complexo de formação da sensibilidade e do intelecto.

    Uma questão de fundo, que parece confrontar o ensaio clássico de Freud, é apostar num possível bem-estar cultural, que possa aperfeiçoar a qualidade de vida no planeta. (REYNALDO DAMAZIO)

    AUTOR: Carlos Vogt
    EDITORA: Perspectiva
    QUANTO: R$ 69 (352 págs.)
    AVALIAÇÃO: Muito bom

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    CASAMENTO E MORAL

    "A moral tradicional não errou ao exigir o autocontrole, mas ao exigi-lo no lugar errado". Ao invés do amor, "generoso e expansivo", o que tal disciplina deveria conter é um sentimento "restritivo e belicoso" como o ciúme. Com a perspicácia de quem antevia, já em fins dos anos 1920, as novas dinâmicas sociais e sexuais trazidas pela pílula anticoncepcional e pela revolução feminista, Bertrand Russell apregoa (e diagnostica), nesse ensaio, a liberalização da moralidade do amor.

    Seu espírito cético e anticlerical é traduzido na militância por uma ampla reforma de valores, que despoje prazeres e deveres humanos do peso da superstição e do tradicionalismo rígido. Russell fala em "casamentos experimentais", cujo vínculo só se estreitaria de fato no momento da vinda e criação dos filhos.

    Em nossa cultura contemporânea do "ficar", são preceitos nada estranhos, mas que convidam a uma responsabilidade moral nem sempre respeitada pelo hedonismo inconsequente. (CAIO LIUDVIK)

    AUTOR: Bertrand Russell
    TRADUÇÃO: Fernando Santos
    EDITORA: Unesp
    QUANTO: R$ 42 (450 págs.)
    AVALIAÇÃO: Ótimo

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    PERSEGUIÇÃO E A ARTE DE ESCREVER

    Um dos pensadores políticos mais importantes do século 20, Leo Strauss aqui esboça os fundamentos do que ele chama de uma "sociologia da filosofia", calcada, antes de mais nada, na "periculosidade" da livre investigação racional nas sociedades mais diversas, desde a democracia ateniense que assassinou Sócrates até —e é esse o contexto que Strauss examina mais de perto nos ensaios aqui reunidos— a cultura judaico-islâmica medieval.

    A linha argumentativa chega a nos fazer pensar na magnífica perspectiva do crítico brasileiro Luiz Costa Lima sobre o "veto à ficção", o controle social do imaginário, e as respostas que a literatura lhes dá ao longo dos tempos. Nos pensadores —mostra Strauss, analisando casos como os de Maimônides e Spinoza—, tal resposta vem muitas vezes na forma de um dualismo entre suas doutrinas "exotérica" e "esotérica", esta última reservada aos leitores mais cuidadosos, com faro para as entrelinhas. (CAIO LIUDVIK)

    AUTOR: Leo Strauss
    TRADUÇÃO: Hugo Langone
    EDITORA: É Realizações
    QUANTO: R$ 49,90 (192 págs.)
    AVALIAÇÃO: Ótimo

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