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    Em thriller, Jean-Pierre Melville resgata experiência na França ocupada

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    DE SÃO PAULO

    31/10/2015 02h00

    O chapéu de caubói texano, os olhos sempre guardados por óculos escuros e um punhado de ótimos thrillers no coldre fizeram-no passar muitas vezes por diretor de cinema americano. Só o prenome, Jean-Pierre, revela a origem francesa, à qual ele associou o nome artístico Melville, inspirado pelo escritor que também escapa a classificações.

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    Lino Ventura em cena de 'O Exército das Sombras
    Lino Ventura em cena de 'O Exército das Sombras'

    Apesar de seu trabalho, iniciado em fins dos anos 1940, ser uma influência reivindicada pela geração da nouvelle vague, pelo modo de produção com poucos recursos e muita inventividade, os filmes de Jean-Pierre Melville não alcançaram a proporção de culto conquistada por seus descendentes.

    "O Exército das Sombras", antepenúltimo título de uma obra composta por 13 longas, ecoa desde o título o percurso deste diretor "outsider". Neste thriller de 1969, sobre um grupo que atua na Resistência francesa durante a Ocupação nazista, sua experiência pessoal durante os anos de guerra dá um fôlego a mais à ficção adaptada do livro de Joseph Kessel. Foi para participar de ações da resistência que Jean-Pierre, então com 20 e poucos anos, adotou o nome de guerra Melville.

    "Más lembranças, no entanto, sejam bem-vindas... vocês são minha juventude distante...", diz a epígrafe com que o cineasta afirma a superposição da história pessoal à coletiva. A primeira imagem mostra o desfile marcial de uma tropa alemã em frente ao Arco do Triunfo e revela a perspectiva irônica de Melville em relação às glórias históricas.

    Sob essa superfície, na qual um poderio se exibe esvaziado das fragilidades humanas, outra forma de vida se organiza na sombra.

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    O Exército das Sombras, por Jean-Pierre Melville
    O Exército das Sombras, por Jean-Pierre Melville

    Melville abstrai a dimensão heroica para representar seus personagens como seres comuns levados a agir numa situação de exceção. Há, certamente, sacrifícios e martírios, perseverança e destemor, mas o diretor evita reforçar a mitologia associada à resistência.

    Por meio da imagem apagada, toda em tons escuros, da luz e da maquiagem que empalidecem os atores e dos acordes graves da trilha musical de Éric Demarsan é que Melville nos transmite as emoções de uma experiência individual e coletiva, quando a vida foi trocada pelo medo da morte.

    O Exército das Sombras
    DIRETOR: Jean-Pierre Melville
    DISTRIBUIDORA: Versátil
    QUANTO: R$ 39,90
    AVALIAÇÃO: ótimo

    Edição impressa

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