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    Livro de autora lituana mostra menina que supera seus medos e melancolias

    DE SÃO PAULO

    28/11/2015 02h00

    QUANDO ABRO OS OLHOS

    Essa mania que adulto tem de achar que criança tem de estar sempre alegre e sorridente é puro equívoco. A infância oferece momentos e dias dolorosos, e não estamos falando de famílias desestruturadas ou coisa assim. A tristeza, nos primeiros anos de realidade, vem pura como todo o resto -e deve ser passageira.

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    O livro da lituana Agne Bruziene, autora também das lindas ilustrações, traz um menina com medos e melancolias, assustada ao abrir os olhos para mais um dia que talvez seja ruim de sensações e sentimentos. Aos poucos, ela enfrenta a escuridão e começa a colocar cores no espaço e a deixar a luz entrar pela janela. Nessa tentativa de superação, fica claro o paralelo entre alma e arte, as tintas colorindo as sombras de um coração apertado.

    E o melhor: nem escritora, nem personagem têm medo de serem líricas demais ou piegas, mostrando a enorme distância que existe entre o ponto de vista do leitor de um país báltico e o de um brasileiro. (VIVIEN LANDO)

    AUTOR: Agne Bruziene
    TRADUÇÃO: Dani Gutfreund
    EDITORA: MOV Palavras
    QUANTO: R$ 49 (32 págs.)
    AVALIAÇÃO: bom

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    TRONCO A FORMAR PONTE SOBRE UM RIO

    Há livros infantojuvenis que jogam na fronteira da idade, com seu destino compartilhado pelos adultos, a exemplo desta obra de César Brandão, artista mineiro sui generis que elaborou um livro limítrofe, de imagens-margens que acasalam fotografia, objetos, desenhos e elementos da natureza, no qual o ascetismo e a simbiose cultura-natureza exalam certo ar de "arte povera".

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    O mais importante nele, muito mais do que o texto —que nunca chega a ser correlato exato da visualidade—, é precisamente essa comunhão flutuante (objetualidade e natureza casadas por meio do desenho), já que a história é sobretudo imagética, funciona de forma errática, com a ajuda de "fotografias movediças" e ilustrações objetuais que são obras autônomas: "estímulos visuais ao imaginário", como aponta o autor.

    Um convite à imaginação, portanto, como leitura da passagem histórico-mitológica dessa ponte que o livro estabelece sobre as àguas das páginas. (ADOLFO MONTEJO NAVAS)

    AUTOR: César Brandão
    EDITORA: Funalfa/Motirô
    QUANTO: R$ 37 (48 págs.)
    AVALIAÇÃO: ótimo

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    ONDE A ONÇA BEBE ÁGUA

    Os mitos dos povos indígenas são um transbordamento infinito de fantasia, psicologia e sociologia. Sorte da geração atual de leitores que as mentalidades social e editorial estejam mudando. Agora já podemos conhecer esses mitos direto da fonte, numa boa safra de escritores: Daniel Munduruku, Eliane Potiguara, Roni Wasiry Guará, Graça Graúna, Yaguarê Yamã, Olívio Jekupé e outros.

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    Mais e mais não indígenas estão se apaixonando pelos verdadeiros donos do Brasil e suas tradições. A partir do contato com a obra do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, a ficcionista Veronica Stigger escreveu um conto fortemente simbólico, deliciosamente fantástico, narrado à maneira de um mito indígena. A experiência foi enriquecida com as imagens amarelo-verdejantes de Fernando Vilela.

    Quem é quem nesse vaivém dos sentidos? Essa é a questão ontológica que enreda o amedrontado Joaci e a poderosa onça, numa aldeia misteriosamente abandonada. O ponto alto da trama é a resposta –ela existe– a essa indagação existencial. (NELSON DE OLIVEIRA)

    AUTOR: Veronica Stigger
    ILUSTRAÇÕES: Fernando Vilela
    EDITORA: Cosac Naify
    QUANTO: R$ 39,90 (32 págs.)
    AVALIAÇÃO: muito bom

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    ZELDA, A PIRATA

    A história de Zelda não é das mais comuns: ainda bebê, ela é encontrada num cesto à deriva, em alto-mar, por piratas que passam em um navio. O grupo decide recolher a criança e criá-la.

    A graça da história está na velocidade com que, em poucas páginas, o bebê cresce e se torna uma menina —e uma menina de personalidade forte, destinada a comandar a tripulação. Assim, ela chega a liderar um motim a bordo contra o capitão, que tratava duramente os marujos.

    As reviravoltas do relato, porém, se mostram pouco inspiradas: a certa altura, ela quer ser uma menina normal e doce. Para oferecer cuidados e higiene à menina, os piratas decidem recorrer às suas mães. Zelda é lavada e vestida com esmero. Previsivelmente, porém, a menina não se adapta ao banho de normalidade e logo percebe que prefere voltar a ser pirata. (BRUNO ZENI)

    AUTOR: Pieter van Oudheusden
    ILUSTRAÇÕES: Merel Eyckerman
    TRADUÇÃO: Patricia Broers-Lehmann
    EDITORA: SM
    QUANTO: R$ 44 (48 págs.)
    AVALIAÇÃO: muito bom

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