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    Coletânea de autores de cinema é um convite à cinefilia investigativa

    ROBERTO ALVES
    DE SÃO PAULO

    28/11/2015 02h00

    Ainda que gestada no âmbito acadêmico (o seminário "Cinema e Filosofia", na Universidade de Buenos Aires, em 2003) esta coletânea de ensaios em torno do cinema moderno constitui leitura estimulante para os que acreditam, como Paulo Emílio Sales Gomes, que "o interesse pelo cinema não conduz, necessariamente, à preguiça intelectual".

    Trata-se de obra que convida a uma cinefilia mais investigativa, que municie o olhar no sentido de emancipá-lo do programado pela hegemonia do espetáculo, que fortaleça a criação de novas ideias diante dos filmes, capazes de transcender o comodismo contemplativo ou a identificação consumista. Pensar o cinema é tarefa fundamental aos seus amantes hoje, quando, já na crítica jornalística, carece-se de espaços adequados e de abordagens menos ralas e personalistas.

    Divulgação
    gente da sicília_reprodução === GuiaLivros82
    Cena de "Gente da Sicília", de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet

    A preciosa "Apresentação", de Ismail Xavier, organiza as balizas históricas e os horizontes críticos implicados nos ensaios que se seguirão. "Filósofos cinéfilos" (Badiou, Rancière, Jean-Louis Comolli, que comparecem com textos) são valorizados pelo crítico na medida de suas "interrogações trazidas por experiências de análise de filmes, de obras de autores e de formas do documentário", ou, como no marco deleuziano, pela capacidade de "criar conceitos (como é tarefa do filósofo) a partir de uma interação com o cinema".

    Divulgação
    Capa do livro Pensar cinema

    Os textos contemplam, por exemplo, o gesto da videoarte, renovador das possibilidades artísticas (como nas intervenções de e sobre Vilém Flusser), a "palavra sensível" (Rancière) na estética antirrepresentativa de Straub & Huillet e as desconstruções da imagem pela montagem das imagens, como nos videogramas e instalações de Harun Farocki.

    Para destacar um cineasta, entre os que a coletânea traz a lume, cito o português Pedro Costa, cujo espantoso e ainda pouco conhecido "No Quarto da Vanda", analisado por Comolli, ressuscita para cada espectador a potência "aqui e agora do encontro filmado", a "inscrição verdadeira" do real na imagem cinematográfica.

    *

    PENSAR O CINEMA: IMAGEM, ÉTICA E FILOSOFIA
    AUTORES: vários
    ORGANIZAÇÃO: Gerardo Yoel
    TRADUÇÃO: Livia Deorsola
    EDITORA: Cosac Naify
    QUANTO: R$ 49,90 (288 págs.)
    AVALIAÇÃO: ótimo

    Edição impressa

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