O ROSTO DE DEUS
Roger Scruton é um dos expoentes da retomada contemporânea do conservadorismo como visão de mundo calcada na consciência de que "as coisas admiráveis são facilmente destruídas, mas não são facilmente criadas" —a despeito do otimismo superficial das reengenharias utópicas do homem que se pretende demiurgo de si mesmo na modernidade.
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Capa de "O Rosto de Deus" |
Neste livro, fruto de conferências proferidas em 2010, vemos que, para o filósofo britânico, tais "coisas admiráveis", como os ideais de liberdade (que passa pelo direito à propriedade), a moralidade e a civilidade, deitam raiz na capacidade de percepção pelos humanos do "rosto de Deus" no mundo, do "Eu sou aquele que é" a impregnar a vida de um mistério inacessível aos esquemas explicativos das ciências (como o evolucionismo darwinista) ou "pseudociências" (freudismo, marxismo), que Scruton toma como alvos de seu embate contra o deserto destrutivo representado pela "cultura ateísta que cresce à nossa volta". (CAIO LIUDVIK)
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DERRIDA
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Capa de "Figuras do Saber: Derrida" |
Autor de ensaios introdutórios sobre Husserl e Heidegger para esta mesma coleção "Figuras do Saber", da Estacão Liberdade, Jean-Michel Salanskis, professor de filosofia na Universidade Paris 10, se vale do mesmo talento pedagógico na apresentação descomplicada, mas rigorosa, do pensamento de Jacques Derrida (1930-2004).
Francês nascido na Argélia, Derrida foi um dos expoentes, ao lado de nomes como Foucault, Deleuze e Lyotard, do chamado pós-estruturalismo de imensa influência desde os anos 1970, em campos como a filosofia, a crítica literária e a reflexão política que herda da esquerda tradicional o radicalismo -mas com novas ferramentas e horizontes de intervenção.
Sua trajetória, conceitos-chave como desconstrução e diferença, o diálogo com a psicanálise e a crítica heideggeriana da metafísica ocidental, sua atualidade: nada de essencial fica de fora neste que se torna desde já um guia utilíssimo para os interessados em se aventurar nos labirintos do autor da "Gramatologia". (CL)
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SÊNECA E O ESTOICISMO
O historiador e arqueólogo Paul Veyne, professor emérito no Collège de France, destrincha a tumultuada trajetória de Sêneca, mestre espiritual no sentido que esse adjetivo tinha na filosofia antiga.
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Capa de "Sêneca e o Estoicismo" |
Ou seja, filosofia concebida, segundo mostrou Pierre Hadot, não como elucubração academicista, mas como conversão interior, compromisso de desalienação face às vaidades mundanas, arte de viver com uma sobriedade difícil de se constatar no cotidiano de insanidades e despotismo da política romana da qual Sêneca sempre esteve muito próximo, tendo sido preceptor de Nero -que, ao lado de Calígula, entrou para a história como um dos tiranos de mais triste fama.
Tais ambiguidades estão em destaque aqui, bem como a riqueza e a atualidade -para além dos estereótipos de resignação fatalista- da doutrina estoica de Sêneca, senda secular de procura da felicidade nas bases do domínio da razão sobre as paixões. (CL)