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    ANÁLISE: Pepinos emancipados

    MANUEL DA COSTA PINTO
    DE SÃO PAULO

    27/02/2016 02h04

    Num momento de selvagem polarização ideológica do Brasil, uma editora que também publica ficção, mas com um catálogo predominantemente composto por pensadores de esquerda (como os brasileiros Leandro Konder e Michael Löwy, o esloveno Slavoj Zizek e os húngaros Gyorgy Lukács e István Mészáros), lança uma inusitada coleção de livros com conteúdo político voltado para o público infantojuvenil.

    A coleção se intitula "Livros para o Amanhã". Composta por quatro títulos, originalmente publicados na Espanha no período imediatamente posterior ao fim da ditadura franquista, a série inaugura o selo Boitatá, que também poderia ser resumida na fórmula "Boitempo para crianças".

    Marta Pina/Reprodução
    A ilustração do livro "A Democracia Pode Ser Assim"
    A ilustração do livro "A Democracia Pode Ser Assim"

    "'Livros para o Amanhã' sintetiza a cara que a Boitempo quer dar para a Boitatá", diz Thaisa Burani —editora-assistente da Boitempo e editora do selo com Ivana Jinkings (diretora da casa por ela fundada há pouco mais de 20 anos, em 1995).

    Quem conhece o perfil combativo da Boitempo, talvez espere —para o bem (se for de esquerda, "progressista") ou para o mal (se for de direita, "conservador")— que a Boitatá traga uma lista de livros com teor doutrinário, ou que pretendam formar militantes mirins, no espírito do ditado de que "é de pequenino que se torce o pepino".

    A julgar pelos exemplares de "Livros para o Amanhã", porém, pais encarniçadamente anti-esquerdistas podem se sentir a salvo do risco de "perverter" seus pimpolhos. Como explica Cristina Paiva, na resenha da coleção deste "Guia", a série responde muito mais à necessidade de, passado um período de quase 40 anos de traumas políticos na Espanha, afirmar valores de liberdade e igualdade econômica, social e individual válidos para qualquer democracia —à direita ou à esquerda. Criar pepinos emancipados de torções ideológicas não é nada mau para um país que, 30 anos após o fim do regime militar iniciado em 1964, ainda tem devaneios autoritários —à direita e à esquerda.

    Ilustração de Mikel Casal
    Ilustração de Mikel Casal para o livro "A Ditadura é Assim"
    Ilustração de Mikel Casal para o livro "A Ditadura é Assim"
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