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    'Arco de Virar Réu' narra deterioração de protagonista em primeira pessoa

    DE SÃO PAULO

    26/03/2016 02h00

    "Arco de Virar Réu" é uma narrativa inovadora do autor paranaense Antonio Cestaro, em primeira pessoa, percorrendo a deterioração física e mental de seu personagem, um jovem apaixonado pelo estudo antropológico de índios, rumo à esquizofrenia.

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    Arco de virar réuAUTOR Antonio CestaroEDITORA TordesilhasQUANTO R$ 32 (152 págs.) e R$ 22,40AVALIAÇÃO
    "Arco de Virar Réu"

    A cada passo, uma percepção do mundo, das coisas e de si próprio que apenas as pessoas assim chamadas normais seriam, por definição, incapazes de compreender.

    Fragmentos de pesadelos e dolorosas memórias, como a de seu irmão morto, igualmente esquizofrênico, se sucedem enquanto percebe a inapelável loucura que lhe toma conta da alma. Mas sempre com um olhar crítico para os profissionais da saúde mental que cuidam dele.

    Leitura que celebra, sem querer, mais de 150 anos depois, versos de Junqueira Freire em "Contradições Poéticas": "Não, não é louco. O espírito somente/ é que quebrou-lhe um elo da matéria./ Pensa melhor que vós, pensa mais livre,/ aproxima-se mais à essência etérea". (GREGÓRIO BACIC)

    ARCO DE VIRAR RÉU
    QUANTO: R$ 32 (152 PÁGS.) E R$ 22,40 (E-BOOK)
    AUTOR: ANTONIO CESTARO
    EDITORA: TORDESILHAS

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    ESSA MENINA, DE PARIS A PARIPIRANGA

    Tina Correia mistura aqui um apanhado de histórias que marcaram a vida e a infância da autora a outras tantas, reinventadas como ficção. Essa menina, como é chamada a protagonista Esmeralda, narra sua história do nascimento à velhice, passando pela ida a Paris, a história da família e a do pai comunista, entre os anos 1930 e os dias de hoje.

    O que parece dar o toque de organização é menos uma ambição de romancista do que a de contadora de história, capaz de reproduzir com vivacidade as crenças e ditos populares que marcam a experiência de tantos brasileiros. O efeito, por um lado, é o de construção de um universo quase fantástico, que parece existir num canto suspenso qualquer do território brasileiro. Mas é também uma lembrança de como os saberes tradicionais orais são tão presentes na formação de nossa identidade que escapam a 500 anos de tentativas de domesticação europeia. (ROBERTO TADDEI)

    ESSA MENINA, DE PARIS A PARIPIRANGA
    QUANTO: R$ 39,90 (272 PÁGS.)
    AUTOR: TINA CORREIA
    EDITORA: ALFAGUARA

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    ELES NÃO MORAM MAIS AQUI

    O mundo é uma derrota coletiva da qual as pessoas buscam consolo na memória, isto é, no passado, um tempo perdido que não serve para nada. A felicidade é uma idéia caduca e a vida uma causa perdida.

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    Eles não moram mais aquiAUTOR Ronaldo CagianoEDITORA PatuáQUANTO R 38(114 págs.) AVALIAÇÃO
    "Eles Não Moram Mais Aqui"

    Essa a tônica de alguns textos preciosos reunidos neste livro de Ronaldo Cagiano, escritor mineiro premiado em diversas cidades do Brasil —de Araraquara a Ponta Grossa, de São Bernardo do Campo a Pouso Alegre— e autor de contos já editados em espanhol e em búlgaro. Pena que ninguém ainda o tenha apresentado às nossas escolas.

    Estão aqui seus melhores escritos deste início de século, em que se destacam a trilogia de contos que abre o livro e a crônica de alto padrão sobre São Paulo que o encerra (nenhum paulistano deveria deixar de lê-la!). Variam os estilos, mas o ímpeto cinematográfico de sua narrativa desnuda nossa fragilidade frente à existência, alçando, com maturidade, a bandeira da desesperança. (GREGÓRIO BACIC)

    ELES NÃO MORAM MAIS AQUI
    QUANTO: R$ 38 (114 PÁGS.)
    AUTOR: RONALDO CAGIANO
    EDITORA: PATUÁ

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    TIRANDO A LOUCA DO ARMÁRIO

    Estreia do dramaturgo, cenógrafo, figurinista e artista plástico Naum Alves de Souza na literatura, essa rocambolesca coletânea de contos oferece o mesmo colorido ruidoso de seu trabalho pensado para os palcos.

    Nos 13 contos, uma infinidade de personagens caricatas —as strippers Chhrys e Deusa, a missionária Miss Grace, os pensionistas de Tia Alva, a louca do quarto trancado, o escritor melindroso e o pessoal de teatro, Amadeu e os crocodilos da Condessa, a milionária Venúsia, a engajada Fefa, a maestrina Ludmila e o cigano Ivo, os sócios do Clube do A, uma professora de canto orfeônico, muitos inominados— vivem enredos bizarros, pra lá de mirabolantes.

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    Tirando a louca do armárioAUTOR Naum Alves de SouzaEDITORA DescaminhosQUANTO R$ 46 (270 págs.) e R$ 12,90 (e-book)AVALIAÇÃO
    "Tirando a Louca do Armário"

    O colorido ruidoso vem do excesso de doenças físicas e mentais, cornos e adúlteras, católicos, evangélicos e testemunhas de Jeová, criaturas que se metamorfoseiam, o diabo a quatro. Em certos casos, o exagero kitsch também é arte. E, nesse livro de estreia, ao menos dois contos, "Analisando Friamente" e "La Musica", são obras-primas. (NELSON DE OLIVEIRA)

    TIRANDO A LOUCA DO ARMÁRIO
    QUANTO: R$ 46 (270 PÁGS.) E R$ 12,90 (E-BOOK)
    AUTOR: NAUM ALVES DE SOUZA
    EDITORA: DESCAMINHOS

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    CORPO SEPULCRO

    Este quinto romance do autor fluminense tem dívida com João Gilberto Noll, desde as fúrias do corpo do protagonista, um escritor e tradutor anônimo que entremeia a leitura de "Orlando", de Virginia Woolf, com mergulhos escatológicos no submundo do homoerotismo de banheiro público.

    Ao retornar de Londres para rever a mãe em Niterói, sempre arrastando a responsabilidade pela morte da irmã gêmea na infância e pelo desgosto do pai com a perda, ele descobre caminhos e obsessões como o apego a seu cão, atropelado em um acidente, e o sexo com travestis e michês com pegada sadomasoquista.

    Almejando certa sacralidade na prática erótica, Sullivan mostra que não é Noll ao vacilar com a linguagem, que oscila entre passagens pretensamente filosóficas e a oralidade dos diálogos. Cenas vão do canhestro ao bizarro com facilidade, mas as passagens mais literárias soam demasiado afetadas. Quem, após Georges Bataille, Anaïs Nin e Glauco Mattoso, ainda suporta o tratamento do sexo como tabu? (JOCA REINERS TERRON)

    CORPO SEPULCRO
    QUANTO: R$ 42 (220 PÁGS.)
    AUTOR: MIKE SULLIVAN
    EDITORA: CONFRARIA DO VENTO

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    OS VIRA-LATAS DA MADRUGADA

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    Os vira-latas da madrugadaAUTOR Adelto GonçalvesEDITORA Letra SelvagemQUANTO R$ 35 (216 págs.)
    "Os Vira-Latas da Madrugada"

    Volta às livrarias um ótimo espécime do neorrealismo paulista, que andava desaparecido havia mais de 30 anos. O romance de Adelto Gonçalves recupera, no plano da ficção que também é reportagem, a rotina de operários, marinheiros, prostitutas, vagabundos e outros párias sociais, na atmosfera sombria e triste do cais de Santos. Lançado em 1981, "Os Vira-Latas da Madrugada" é um pungente manifesto sociológico e político, que mescla investigação e ficção. Um narrador memorialista relembra personagens e conflitos da zona portuária santista, sob as mais diversas ditaduras da mente e do corpo. A simpatia pelos espoliados é genuína, oceânica.

    A nova edição traz finalmente o prefácio de Marcos Faerman, que causou uma saia justa na época do lançamento, por ironizar os vitoriosos de 64. Para não sofrer uma represália por parte do governo militar, a editora José Olympio, sob intervenção, recolheu os exemplares, cortou fora o texto sacrílego e o romance foi distribuído sem o prefácio. (NELSON DE OLIVEIRA)

    OS VIRA-LATAS DA MADRUGADA
    QUANTO: R$ 35 (216 PÁGS.)
    AUTOR: ADELTO GONÇALVES
    EDITORA: LETRA SELVAGEM

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