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    Coletâneas de Alves da Costa reforçam desencanto com correntes modernas

    REYNALDO DAMAZIO
    DE SÃO PAULO

    26/03/2016 02h00

    Na introdução ao livro de poemas "Balada para os Últimos Dias", Eduardo Alves da Costa confessa não ter "medo de parecer discursivo" e critica "correntes" da poesia contemporânea que produzem "pasteizinhos de nata", resultado de um desbaste da linguagem poética que a torna "quase esquelética".

    O longo texto que vem em seguida, em alguma medida, reforça o vazio do argumento requentado, como se o tamanho do poema fosse medida segura de sua pertinência, ou não. O descarnamento pode estar justamente nos lugares-comuns arrolados para desancar a modernidade, sem Deus e dominada pela ciência, em contraponto a um tempo idealizado.

    Divulgação
    Balada para os Últimos DiasAUTOR Eduardo Alves da CostaEDITORA Sesi EditoraQUANTO R$ 45 (136 págs.)AVALIAÇÃO
    "Balada para os Últimos Dias"

    O mesmo desencanto e a mesma ironia saudosista dão o tom aos contos reunidos em "Cem Gramas de Buda" e "A Sala do Jogo". No primeiro, os personagens são fantasmas da geração beat, vagando pelo mundo como zumbis românticos em busca de um nirvana de ocasião; a droga, nessa travessia, pode ser sintética ou uma sacada zen. No segundo, formado por seis contos longos, o autor enfrenta questões mais elevadas, com referências literárias, como num derradeiro conto narrado por Sherazade, quando não havia mais a ameaça de morte, ou o drama de Luiz Ignácio Mascarenhas, que perdeu os documentos e a memória, embarcando numa viagem quase borgeana.

    Ainda que prevaleçam, tanto no poema como na maioria das narrativas, as preocupações com o sentencioso, com o ensinamento moral, com a busca de verdades perdidas, num passado idílico, em certos momentos a elegância se impõem e o leitor volta às incertezas da relação entre literatura e realidade.

    Alves da Costa escreveu em 1968 um poema intitulado "No Caminho com Maiakóvski", que dá título a coletânea homônima, publicada nos anos 1980, e fez muito sucesso em sucessivos períodos: alguns versos emblemáticos desse longo poema circularam em cartazes e camisetas durante movimentos contra a ditadura e pelas eleições diretas, mas acabaram sendo atribuídos ao poeta russo mencionado no título. A edição bem cuidada de seus três livros agora talvez repare a injusta recepção daquele texto emblemático.

    BALADA PARA OS ÚLTIMOS DIAS
    QUANTO: R$ 45 (136 PÁGS.)
    AUTOR: EDUARDO ALVES DA COSTA
    EDITORA: SESI

    Cem Gramas de Buda
    QUANTO: R$ 64 (256 PÁGS.)
    AUTOR: EDUARDO ALVES DA COSTA
    EDITORA: SESI

    A Sala do Jogo
    QUANTO: R$ 69 (312 PÁGS.)
    AUTOR: EDUARDO ALVES DA COSTA
    EDITORA: SESI

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