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    Coletânea de Crumb organizada por brasileiro destaca clássicos do autor

    DE SÃO PAULO

    26/03/2016 02h00

    VIVA A REVOLUÇÃO!

    O coração do amante de quadrinhos logo dispara ao saber de um lançamento assinado por Robert Crumb. Além de ícone da contracultura e um dos mais importantes autores vivos, a surpresa é uma marca importante de seus trabalhos. Crumb inspira paixão e ódio, nunca indiferença. "Viva a Revolução!" é uma coletânea organizada para o público brasileiro pelo editor Rogério de Campos, com trabalhos dos anos 1970 e 80.

    Divulgação
    Capa de "Viva a Revolução"
    Capa de "Viva a Revolução"

    A seleção oferece uma amostra generosa do que o tornou famoso, tanto para seus fãs como para seus detratores. Ela reúne de ilustrações e capas de revistas a tiras e histórias completas com personagens conhecidos, como a feminista Lenore Goldberg, o boneco de neve Frosty, Projunior, o encanador Pete e até uma criação protagonizada pelo próprio quadrinista, o "Sucesso de R. Crumb".

    Além da abundância dos talentos do autor, o projeto revela com clareza a evolução de seu traço. E não deixa de perturbar, uma vez que Crumb nunca respeita os limites do que se considera aceitável nesses tempos do politicamente correto. Pode incomodar uns, mas a intenção é saber rir. (MARIO BRESIGHELLO)

    VIVA A REVOLUÇÃO!
    QUANTO: R$ 89,90 (144 PÁGS.)
    AUTOR: ROBERT CRUMB
    EDITORA: VENETA
    TRADUÇÃO: ALEXANDRE BOIDE 

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    MATE MINHA MÃE

    Um dos mais ubíquos cartunistas norte-americanos, premiado com Pulitzers, todos os prêmios de quadrinhos possíveis e até um Oscar (pelo curta-metragem "Munro"), Jules Feiffer chega ao país sob a pele de uma "graphic novel" muito curiosa -tanto pelo fato de ele só tentar o gênero com mais de 80 anos quanto pela narrativa em si.

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    Capa de "Mate Minha Mãe"
    Capa de "Mate Minha Mãe"

    Explorando clichês do cinema "noir" e do melodrama musical dos anos 1930, 40 e 50 ao narrar as tretas de um detetive bêbado e cinco mulheres alucinantes, Feiffer usa seu traço ágil -nada realista, adequa o gesto do desenho à velocidade da narrativa- para uma estética Belle Époque, em elegantes duotones.

    A vigorosa energia transmitida em cada desenho é articulada em surpreendentes divisões das páginas (às vezes sem divisão alguma), sempre ligeiras e minimalistas. A impressão que se tem é de ver um mestre no auge, usando todo o seu impressionante arsenal de técnicas para divertir os leitores enquanto se diverte contando uma história policial que não faz o menor sentido -a não ser o do humor. (RONALDO BRESSANE)

    MATE MINHA MÃE
    QUANTO: R$ 57,90 (160 PÁGS.)
    AUTOR: JULES FEIFFER
    EDITORA: COMPANHIA DAS LETRAS
    TRADUÇÃO: ÉRICO ASSIS

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    ORGULHO E PRECONCEITO

    Adaptações quadrinísticas de clássicos da literatura merecem uma pausa antes da resenha: sob qual perspectiva deve-se criticá-las, como se fossem histórias originais, surgidas do zero, ou a partir do que realmente são, resumos taquigráficos endereçados a leitores iniciantes ou ineptos? Fiquemos com esta última.

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    Capa de "Orgulho e Preconceito"
    Capa de "Orgulho e Preconceito"

    Sim, pois "Orgulho e Preconceito", obra de Jane Austen (1775-1817) e marco da novela romântica inglesa do século 18 que expôs a submissão feminina com humor, definitivamente não é o mesmo objeto que a HQ roteirizada por Ian Edginton com o insípido desenho de Robert Deas: inteiramente produzido no tablet, com alguma influência do mangá na estilização da figura humana, nem suas cores digitais convencem.

    Sem auxílio de um bom traço, o caso de amor entre o aristocrático sr. Darcy e a impagável Elizabeth Bennet morre à míngua do conteúdo e da profundidade do original, mas também por falta de coração. (JOCA REINERS TERRON)

    ORGULHO E PRECONCEITO
    QUANTO: R$ 39,90 (144 PÁGS.)
    AUTOR: IAN EDGINTON
    EDITORA: NEMOILUSTRAÇÕES Robert Deas
    TRADUÇÃO: FERNANDO VARIANI E GREGÓRIO BERT
    ILUSTRAÇÕES: ROBERT DEAS

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    MACUNAÍMA EM QUADRINHOS

    A narrativa de "Macunaíma" é descontínua, de teor mítico e repleta de imagens sugestivas. Os quadrinistas Angelo Abu e Dan X enfrentaram o desafio de transportá-la para a linguagem das histórias em quadrinhos.
    A adaptação adota dois procedimentos acertados: usa o texto original, do próprio Mário de Andrade, e evita a referência a outras adaptações do livro, especialmente ao filme de Joaquim Pedro de Andrade, estrelado por Grande Otelo e Paulo José.

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    Capa de "Macunaíma em Quadrinhos"
    Capa de "Macunaíma em Quadrinhos"

    Em relação ao texto, obviamente, foi preciso lançar mão de elipses, para que a história pudesse caber nas 80 páginas da HQ. Não se trata, portanto, do texto integral. Mas as escolhas, de modo geral, são acertadas, e os quadrinhos preservam o essencial da rapsódia. Por outro lado, o excesso de texto sufoca um pouco as ilustrações, inspiradas, que revelam também boa pesquisa iconográfica.

    Não são muitos os episódios que ganham imagens mais generosas, de página inteira ou de formato mais arrojados. O resultado é que a hierarquia narrativa dos acontecimentos termina um pouco chapada.
    Ao final, num posfácio divertido, os quadrinistas retratam a si próprios numa espécie de "making of" em quadrinhos sobre o processo de concepção, edição e feitura da HQ. (BRUNO ZENI)

    MACUNAÍMA EM QUADRINHOS
    QUANTO: R$ 39 (80 PÁGS.) E R$ 23,40 (E-BOOK)
    AUTOR: ANGELO ABU E DAN X
    EDITORA: PEIRÓPOLIS

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