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    Romulo Fróes homenageia Nelson Cavaquinho, 'rei vadio do samba'

    ROBERTO ALVES

    30/04/2016 02h00

    Este brilhante e incomum tributo une linhagens musicais distantes no tempo, mas tornadas irmãs pelo âmago de suas propostas estéticas. O álbum entroniza definitivamente o nosso rei vadio do samba, Nelson Cavaquinho, no ano em que lembramos os 30 anos de sua morte, e coroa a carreira notável do compositor paulistano Romulo Fróes.

    Desde o antológico "Calado"(2004), Romulo nos surpreende –em trabalhos solo ou como integrante do Passo Torto– com novas configurações da "beleza difícil", que desentranhou intuitivamente da obra de Nelson e aprofunda sempre mais, desestabilizando maravilhosamente nossa vida cômoda de ouvintes passivos. "Pode Sorrir", no início deste disco, parece acrescentar à temática amorosa original o pedido de respeito à diferença e ousadia musical.

    Zanone Fraissat/Folhapress
    O músico paulista Romulo Fróes
    O músico paulista Romulo Fróes

    O delírio cinza armado em torno dos desconcertantes sambas de Nelson conta com colaboradores de primeira, em duos vocais e arranjos que se ligam, criando novos sentidos. Os toques insistentes do sax barítono de Thiago França (em "Notícia") fazem brotar esplendorosa "Erva Daninha", ao som do cavaquinho de Rodrigo Campos ("Assim sou condenado/ Nem preciso de juiz", de atuais e dolorosas ressonâncias políticas).

    O timbre raro de Dona Inah surge para que insólitas flores possam vaticinar, iminentes: "Vai que amanhã enfeitaremos o seu fim". Preparam cerne ainda mais denso: sem medo do mergulho poético nas águas da dor e da morte, Romulo emenda a belíssima "Cinza" a "Luto". A cuíca lancinante de Welington Moreira "Pimpa" e a guitarra doída de Guilherme Held dão o tom.

    Mas tudo pode ressuscitar quando Ná Ozzetti (só ela poderia fazê-lo...) entra "Caminhando", e canta, divertidíssima, a letra genial com que Nuno Ramos presenteou certo choro instrumental de Nelson. No precioso encarte do disco, o ensaio "Rugas", também de Nuno, revela o "erro" vital que lê em Nelson e no Brasil.

    A dolorosa "Luz Negra", que ameaça falhar, com participação de Criolo, seria belo fim, mas ainda era preciso resgatar "Juízo Final" da recente e horrenda versão de novela e fazer o sol ressurgir das cinzas, em lírico e performático final.

    REI VADIO
    ARTISTA Romulo Fróes
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