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    Coletivo mascarado Guerrilla Girls denuncia injustiças contra artistas mulheres

    SILAS MARTÍ
    DE SÃO PAULO

    11/11/2010 11h44

    Elas se escondem atrás de máscaras de gorila e nomes de artistas mortas para atacar os machos repugnantes.

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    No sotaque americano dessas garotas de Nova York, o nome do primata se confunde com guerrilha, a tática --com menos violência e mais humor--, que usam para denunciar injustiças contra mulheres no meio da arte.

    Era 1985 quando novas encarnações de Frida Kahlo e Kathe Kollwitz, um tanto distantes da surrealista mexicana e da expressionista alemã, decidiram fundar em Manhattan o grupo Guerrilla Girls, até hoje "combatendo a discriminação com fatos, humor e pele de mentira".

    No caso, o rosto de macaco e muito couro ecológico serviram de armadura para essas meninas que tentavam expor estatísticas desfavoráveis às artistas mulheres sem dar a própria cara a tapa.

    "Era um mundo pequeno, então no início queríamos ficar anônimas para nos proteger", lembra a falsa Kollwitz à Folha, antes de embarcar para o Brasil, onde faz hoje uma performance no Oi Futuro, no Rio, e, no dia 19, uma palestra no Sesc Pompeia, em São Paulo. "Mas depois vimos que o segredo era o motivo do nosso sucesso."

    Caso assumissem a ação, teriam comprado briga logo de cara com gente como os grafiteiros Jean-Michel Basquiat e Keith Haring, os minimalistas Donald Judd e Dan Flavin, o pop Roy Lichtenstein e outras figuras grosso calibre --todos homens-- da arte que despontava então.

    Isso porque os nomes desses artistas estavam no primeiro pôster das Guerrilla Girls colado em Nova York, denunciando que eles dominavam as galerias, deixando menos de 10% do espaço para as mostras das mulheres.

    "Nossa ideia era apontar todos os responsáveis, já que na época quase não havia galerias que mostrassem obras de mulheres", diz Kollwitz. "Fomos atrás dos artistas, das galerias, dos museus."

    Divulgação
    Uma das integrantes do coletivo Guerrilla Girls com máscara de gorila, adereço que virou a marca registrada delas
    Uma das integrantes do coletivo Guerrilla Girls com máscara de gorila, adereço que virou a marca delas

    NU COM MÁSCARA

    Quatro anos depois, as Guerrilla Girls fizeram seu trabalho mais conhecido, estampando num outdoor uma mulher nua, vestindo máscara de gorila, com a pergunta: "Mulheres precisam ficar peladas para entrar no Met?".

    Na linha abaixo, vinham dados dizendo que menos de 5% dos artistas na coleção do Metropolitan, em Nova York, eram mulheres e 85% de todos os nus eram femininos.

    Junto de obras mais polêmicas de Nan Goldin, que então se fotografava arrebentada pelas surras que levou do namorado, e mais tarde de Andrea Fraser, que se prostituiu a um colecionador, o cartaz foi o canto do cisne na onda de arte feminista, que depois foi perdendo o vigor.

    "É horrível que o feminismo seja tão demonizado nos Estados Unidos, as pessoas ainda acreditam nessas ideias, mas se recusam a se chamar feministas", diz Kollwitz. "Por isso queremos atacar essas questões com humor, tentando tornar o feminismo algo mais fashion."

    Na moda ou não, também descartam atualizar o look guerrilheiro para algo mais dócil do que o macaco raivoso brandindo dentes afiados.

    "Gorilas são ótimos e servem para combater estereótipos da mulher", afirma Kollwitz. "Talvez assuste algumas pessoas, mas a gente não quer assustar ninguém."

    Ela reconhece, no entanto, que a imagem de feminista como mulher-macho e pouco afeita à estética também espanta seguidores do chamado feminismo, que as Guerrilla Girls dizem "reinventar".

    "Todos adoram dizer que o movimento acabou, mas há feministas fazendo trabalhos importantes ainda", diz Kollwitz. "É algo um pouco fora do radar, mas que está muito mais vibrante do que as pessoas pensam hoje em dia."

    Tão vibrante que talvez seja desnecessário. Desde que começaram, as Guerrilla Girls conseguiram entrar nas coleções de museus que tanto criticaram. Estão no Whitney, no MoMA e no Pompidou, para citar só alguns.

    Elas também celebram o fato de mulheres governarem cada vez mais países no mundo e se dizem extasiadas com a recente eleição da petista Dilma Roussef no Brasil.

    Kollwitz anda tão confortável que não diz, mas também não nega, que seu artista preferido pode ser homem.

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