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    Crítica: Livro retrata Freddie Mercury como inseguro

    THALES DE MENEZES
    EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

    02/02/2013 06h22

    "Freddie Mercury - A Biografia Definitiva", da inglesa Leslie Ann Jones, não consegue justificar o pretensioso título, mas tem atrativos.

    Famoso mundialmente como cantor da banda de rock Queen, Freddie Mercury (1946-1991) já foi muitas vezes biografado. Em língua inglesa, é possível listar pelo menos 20 livros sobre ele que têm algumas relevância.

    Uma questão sempre colocada ao relatar a vida do artista é contemplar dois lados distintos e atraentes de sua história: o sucesso com o Queen e a vida sexual sem freio, culminando na morte em decorrência da Aids.

    A autora alcança um bom equilíbrio, o que deixa a narrativa fluir entre estúdios, shows e festas da pesada, mantendo o interesse pelas quase 500 páginas.

    O que compromete um pouco a obra é uma preocupação excessiva em justificar o comportamento de Mercury fazendo relações com passagens de infância e juventude, num exercício desinteressante e rasteiro de psicanálise.

    FIGURA MATERNA

    Ela insiste em associar a mãe do cantor às figuras de Mary Austin e Barbara Valentin, duas mulheres que foram "casadas" com o cantor. Em fases distintas, elas moraram anos com ele compartilhando sua rotina de incessantes relações casuais com outros homens.

    Mercury chega a ser retratado como uma pessoa patologicamente insegura. Para a autora, ele não superou certo complexo de inferioridade por ter nascido em Zanzibar, que hoje pertence à Tanzânia.

    É compreensível que ele, jovem imigrante em Londres com alguma intenção de fazer carreira no meio da música, escondesse sua origem. Afinal, o mundo pop do final dos anos 1960 estaria preparando para uma estrela nascida em solo africano e com ascendência indiana?

    Mas o livro tem qualidades, que passam por uma edição de capítulos que às vezes quebra a linearidade do relato, com bons resultados.

    Como é o capítulo inicial, que traz uma detalhada descrição da organização do Live Aid, o gigantesco concerto de 1985 para arrecadar ajuda a famintos da Etiópia.

    As informações vão além da participação destacada do Queen no evento, fazendo do capítulo uma atração para qualquer fã de rock.

    Depois a autora vai a Zanzibar para mostrar a boa condição da família do garoto Farrokh Bulsara, sua relação com os pais, a iniciação sexual com meninos da escola e a não muito satisfatória mudança para a Inglaterra.

    SURGE O QUEEN

    Os anos que se passam antes da formação do Queen, quando Mercury já conhecia Brian May e Roger Taylor (futuros parceiros na banda), mostram um Freddie Mercury zanzando no underground, mas relutando em ser cantor. Gostava mais de dar palpites no visual dos músicos e de conviver com eles na noite.

    O processo de entrada na banda que se tornaria o Queen é longo e confuso, como também era a vida sexual de Mercury e sua atração por meninos e meninas.

    Quando a carreira do grupo deslancha e ele se torna um ídolo de rock, o sexo casual vira obsessão.

    Mercury tem um cotidiano dividido entre o Queen e as noites selvagens, relatadas no livro com detalhes, mas sem sensacionalismo --incluindo as vindas da banda ao Brasil, em 1981 e 1985.

    Jones vai aos poucos introduzindo informações sobre o surgimento da Aids, querendo preparar o leitor para o final. Embora a autora demonstre muita afeição pelo biografado, sua morte é mostrada em tom mais frio, distanciado, talvez respeitoso.

    Roqueiros devem ler a obra com prazer. Além do Queen, há narrativas interessantes sobre amigos de Mercury, como Elton John, Rick Wakeman e David Bowie.

    Definitiva? Não, mas uma leitura bem agradável.

    FREDDIE MERCURY - A BIOGRAFIA DEFINITIVA
    AUTOR Leslie Ann Jones
    TRADUÇÃO Fabiana Barúqui
    EDITORA Best-Seller
    QUANTO R$ 59,90 (492 págs.)
    AVALIAÇÃO bom

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