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    Crítica: Livro sobre Frank Sinatra patina na falta de intimidade com o mundo musical

    RUY CASTRO
    COLUNISTA DA FOLHA

    04/05/2013 03h12

    O maior cantor do século 20 continua a alimentar a indústria editorial. Frank Sinatra gera mais livros por ano do que os frankófilos dão conta. Apenas nos últimos tempos, tivemos livros de memórias por sua filha Tina, sua viúva Barbara e (o mais divertido) seu mordomo George Jacobs ("Mr. S: My Life with Frank Sinatra"). Entre os livros sérios, dedicados ao cantor e à sua música, "Sinatra Singing", de Richard Grudens, e o revelador "Sessions with Sinatra", de Charles L. Granata, vieram complementar o até então decisivo "Sinatra! The Song Is You", de Will Friedwald. E há as filmografias, discografias e (sim) cançãografias, que não param de sair.

    No quesito biografias, Sinatra já foi esmiuçado como um homem terno ou violento, farrista impenitente, marido abandonado, amante de grandes mulheres, pai extremado, íntimo de presidentes, querido pela máfia e "bête noire" do FBI. E todas as pessoas ao seu redor (Bing Crosby, Tommy Dorsey, Ava Gardner, Nelson Riddle, a família Kennedy --incluindo Marilyn Monroe--, Mia Farrow e mil outras) também já foram biografadas. Com isso, produzir mais uma biografia de Sinatra ficou tão difícil (o que ainda resta por descobrir?) quanto facílimo: pode-se montar um grande painel sobre ele quase sem sair de casa e falar com alguém. Basta compilar a gigantesca biblioteca a respeito do artista e do homem.

    Livro destrincha altos e baixos da formação do mito Frank Sinatra

    É o que faz James Kaplan no ambicioso "Frank: A Voz", que leva 752 páginas para tratar dos primeiros 40 anos de Sinatra --de sua complicada relação com a mãe até a sua dura construção como cantor, o sucesso em escala nunca vista e a queda do paraíso. Um segundo volume, que Kaplan ainda está cometendo, contará o resto da história.

    À falta de novas fontes primárias para entrevistar (quase todo mundo das antigas já morreu), Kaplan às vezes tenta fazer ilações sobre fatos estabelecidos. Nada de errado nisso em casos como o de Sinatra, e, em certos momentos, ele até consegue (como ao propor que Sinatra levou a vida se vingando das humilhações que, em criança, sofria dos mais velhos). Poderia ter feito isso também em relação à música, mas patina na sua falta de intimidade com o assunto.

    Exemplo: cantores como Gene Austin, Cliff Edwards ("Ukelele Ike") e Rudy Vallee não eram barítonos que se beneficiaram da chegada do microfone elétrico em 1925. Eram tenores. E Bing Crosby era um barítono que trabalhava nas regiões mais altas da escala, até que um calo crônico nas cordas vocais, em fins dos anos 1930, obrigou- o a usar sua verdadeira voz. E Kaplan mostra Sinatra extasiando-se diante da cantora inglesa Mabel Mercer nas boates da rua 52 em 1937, quando, na vida real, Mabel só chegou a Nova York em 1938. Há outras escorregadelas do gênero, como se Kaplan tivesse de aprender muito em pouco tempo.

    Mas o livro é simpático a Sinatra e pode ser útil para quem quiser iniciar-se na vida e na obra do homem. Tente ignorar que a tradução soa como dublagem e contém advérbios suficientes para encher vários caminhões.

    FRANK: A VOZ
    AUTOR James Kaplan
    EDITORA Companhia das Letras
    TRADUÇÃO Pedro Maia Soares
    QUANTO R$ 69 (752 págs.)
    AVALIAÇÃO regular

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