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    Crítica: Em apenas duas horas, ri muito e aprendi bastante com o livro

    JOÃO PEREIRA COUTINHO
    COLUNISTA DA FOLHA

    17/08/2013 03h18

    Depois do Brasil e da América Latina, era inevitável que Leandro Narloch se ocupasse da história do mundo. Aplausos para ele: em duas horas de leitura, ri muito e aprendi bastante.

    Ri muito com o humor de Narloch, que tem um talento especial para o "understatement". A Roma Antiga foi invadida pelos bárbaros? O autor comenta: "Mais uma prova de que o Império Romano não ia bem". Observações dessas você não encontra na obra de Eric Hobsbawm.

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    Mas o texto de Narloch não é apenas divertido; é uma defesa vigorosa desse monstro que, na falta de melhor expressão, podemos designar simplesmente por "civilização ocidental".

    Se você, leitor, não tem o hábito extravagante de pensar (ou de estudar) e come todo o lixo marxista/relativista/niilista que é servido nas manjedouras universitárias, é provável que a "civilização ocidental" seja vista como a origem de todos os males.

    Narloch discorda. A queda de Roma foi um piquenique multiculturalista entre o império e a barbárie? Não foi, não: o autor relembra como a queda de Roma fez a civilização regredir mil anos até ao nível da Idade do Ferro.

    O que não significa que a Idade Média tenha sido um caso perdido. Não foi. E não foi porque -oh blasfêmia!- parece que existiu uma coisa chamada cristianismo que apanhou os cacos da herança clássica e permitiu que a civilização seguisse em frente.

    Se você acha que a Revolução Industrial terminou com o paraíso bucólico que existia, ler Narloch ajuda a entender o que a revolução permitiu: a criação do mundo moderno e uma qualidade de vida com que os nossos antepassados nem sonhavam.

    Claro que o mundo moderno teve as suas páginas grotescas: a miséria da África depois do colonialismo (e não necessariamente por causa dele) foi uma dessas páginas. Os regimes totalitários do século 20 foram outra.

    Por último, tiro o meu chapéu lusitano ao exótico capítulo que Narloch dedica aos samurais japoneses. Melhor: à forma como os portugueses, introduzindo as armas de fogo no Japão no século 16, acabaram com essa raça.

    Durante anos, nunca perdoei aos meus antepassados essa grotesca falta de maneiras. Descubro agora, por meio de textos do jesuíta português João Rodrigues citados no livro, que a imagem romântica dos samurais não passava de uma falácia: os nobres guerreiros eram, na verdade, vagabundos sem caráter.

    Depois de uma desilusão dessas, já removi da parede da sala a minha espada.

    AVALIAÇÃO ótimo

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