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    Crítica: 'Uma Odisseia no Espaço' tem detalhes que seriam impossíveis ao filme revelar

    BRAULIO TAVARES
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    09/11/2013 03h24

    Esta reedição de "2001: Uma Odisseia no Espaço", de Arthur C. Clarke (1917-2008) traz, entre outros textos, dois dos contos que ele entregou a Stanley Kubrick quando este lhe pediu ideias para um filme sobre "o lugar do homem no universo". São "A Sentinela" (1951) e "Encontro ao Alvorecer" (1953).

    São traduzidos aqui por Carlos Ângelo, e o corpo do livro por Fábio Fernandes. No belo projeto gráfico, a capa de Pedro Inoue mostra o "olho" do computador Hal-9000 e o livro, todo em negro, reproduz o famoso monolito.

    Clarke é um mestre em narrativas sobre alta tecnologia futurista em acontecimentos de escala cósmica. Sua formação científica rigorosa traz para cada página detalhes que nos fazem pensar: "Isto jamais teria me ocorrido".

    Sua prosa é muito visual, produzindo o "sense of wonder", a sensação de maravilhamento que é característica da ficção científica clássica.

    Este romance é visto como "o livro que explica o filme de Kubrick", uma espécie de guia comentado do filme. No entanto, embora descreva em detalhes aspectos técnicos que o filme não teria como explicar, e tenha sido produzido em paralelo às filmagens, é um romance que tem luz própria. Um (raro) leitor de FC que nunca tivesse visto o filme de Kubrick reconheceria neste texto todo o vigor dos temas e as qualidades da escrita do autor inglês.

    Como na estrutura híbrida de sua nave Discovery, a narrativa se articula em quatro histórias bem distintas, resumindo a trajetória do homem no cosmos: os homens-macacos pré-históricos, a conquista da Lua, a chegada a Saturno (no filme, o planeta-alvo da missão é Júpiter, porque Kubrick não conseguiu produzir uma imagem de Saturno que o satisfizesse) e o mergulho no "céu alienígena".

    A transcendência cósmica é um dos grandes temas de Clarke, presente em obras como o clássico "O Fim da Infância" (1953). Para ele, o ser humano é um estágio intermediário da espécie, rumo a um destino que ainda não temos como compreender.

    Em "2001", do primitivo Aquele-Que-Vigia-a-Lua à Criança-Estrela, vemos um segmento de uma explosão evolutiva da qual não imaginamos o começo nem o fim.

    O olho de Bowman, refletindo as cores do hiperespaço onde ele mergulha nas sequências finais, é uma das imagens mais poderosas do filme. No livro, o olho é uma oval branca e gigantesca que se estende na vertical, na superfície do satélite Jápeto, e a descoberta feita por Bowman tem um modo indireto de revelação que somente a literatura pode proporcionar.

    BRAULIO TAVARES é escritor, autor de "Histórias para Lembrar Dormindo" (Casa da Palavra).

    2001: UMA ODISSEIA NO ESPAÇO
    AUTOR Arthur C. Clarke
    TRADUÇÃO Fábio Fernandes
    EDITORA Aleph
    QUANTO R$ 54 (336 págs.)
    AVALIAÇÃO bom

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