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    Copa e Carnaval espremem calendário de lançamentos de livros

    RAQUEL COZER
    COLUNISTA DA FOLHA

    04/01/2014 03h44

    Ainda não há balanço oficial das vendas de livros no país em 2013, mas grandes editoras preveem faturamento até 20% maior que o de 2012 e creditam boa parte da expansão aos títulos juvenis, segmento que mais cresceu no período, segundo a empresa de pesquisa GfK.

    No entanto, as casas veem com preocupação o cenário que se desenha para este ano, com Copa do Mundo e eleições, períodos de vendas potencialmente fracas, e o Carnaval só em março — normalmente, grandes lançamentos saem apenas depois dele.

    E-books chegam a 3% das vendas de livros

    "Nossa equipe de vendas concluiu que, se o Brasil for finalista da Copa e tivermos segundo turno nas eleições, perderemos 40 dias de vendas. Isso é 10% do ano", diz Bruno Lerner, superintendente da Melhoramentos.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Um resultado disso será a antecipação de apostas das editoras para antes do Carnaval e outra concentração de lançamentos no período entre o Carnaval e a Copa.

    Entre as apostas para as próximas semanas está "A Estrela que Nunca Vai se Apagar" (Intrínseca), de Esther Grace Earl, a garota que morreu com câncer em 2010 e inspirou John Green a criar a protagonista de seu maior sucesso, "A Culpa É das Estrelas".

    Também nos próximos dias sai um dos títulos mais importantes do ano da L&PM, o primeiro volume de "O Idiota da Família", biografia de 3.000 páginas de Gustave Flaubert, assinada por Jean-Paul Sartre e inédita no país.

    Apesar da previsão de lançamentos sobre a Copa — caso da Benvirá, que terá textos de Nelson Motta sobre o evento; da Companhia das Letras, com crônicas futebolísticas de Drummond; e da Planeta, com uma biografia do Neymar—, ela deve mais atrapalhar que ajudar nas vendas.

    "Vai ser um ano duríssimo. Vamos tentar manter a constância na produção, mas concentrando os títulos fortes no começo do ano", diz Otávio Marques da Costa, publisher da Companhia das Letras.

    Será uma concorrência forte, já que nenhuma casa diz ter planos de reduzir o número de lançamentos em 2014.

    SALDÕES

    Uma tendência de 2013 que deve se manter neste ano é a de saldões de editoras nos sites de grandes livrarias.

    Comuns há anos nos Estados Unidos, como forma de queimar estoques num mercado aquecido em lançamentos, os descontos de até 50% em livros costumavam acontecer no Brasil apenas no site Submarino, mas expandiram-se no ano passado.

    A onda foi puxada pela Cosac Naify e pela Livraria Cultura em 2011. Em 2013, outras lojas virtuais, como as da Saraiva e da Martins Fontes, participaram de promoções de mais de dez editoras, incluindo Companhia das Letras, Objetiva e Record.

    "Quando a Cosac pôs 17 livros na lista de mais vendidos com sua promoção, em 2011, todos abriram os olhos. Todas as editoras têm nos estoques uma quantidade extraordinária de bons livros que não vendem mais, e o saldão dá ao consumidor acesso a eles", diz Marcos Pereira, sócio da Sextante.

    Mas mesmo livrarias que aderiram aos saldões veem esse cenário com cautela.

    "As pessoas param de comprar à espera das promoções. É uma espécie de anabolizante, prejudica o desempenho geral", diz Sergio Herz, CEO da Livraria Cultura.

    Tanto pior para as independentes, que ficam de fora das negociações.

    "Para a gente, é mortal. Compramos o livro, deixamos em estoque e quando vemos, as grandes estão vendendo pela metade do preço", diz Marcus Gasparian, dono da livraria carioca Argumento.

    A disputa deve ficar ainda mais acirrada com a entrada da Amazon na venda de livros físicos, prevista para este semestre. Em 2013, a loja se firmou como a maior varejista de e-books no Brasil justamente com descontos em títulos do chamado "fundo de catálogo", mais antigos.

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