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    É como entrar no time principal, diz brasileiro selecionado na Berlinale

    MATHEUS MAGENTA
    EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

    18/01/2014 03h21 Erramos: o texto foi alterado

    A seleção do longa "Praia do Futuro" para concorrer ao Urso de Ouro de Berlim deste ano representou um novo patamar na carreira do diretor cearense Karim Aïnouz. "É como entrar no time principal", define. O festival acontece entre os dias 6 e 16 de fevereiro.

    Aïnouz, 47, levou filmes ("Madame Satã", "O Céu de Suely" e "Viajo porque Preciso, Volto porque Te Amo", por exemplo) aos três principais festivais de cinema do mundo (Cannes, Veneza e Berlim). Mas sempre em mostras paralelas desses eventos.

    Nos últimos anos, poucos diretores brasileiros estiveram nessas seleções, como Walter Salles (com "Na Estrada" e "Linha de Passe" em Cannes em 2012 e 2008, respectivamente), José Padilha (vencedor de Berlim em 2008 com "Tropa de Elite") e Cao Hamburger ("O Ano em que meus Pais saíram de Férias" competiu em Berlim em 2007).

    Alexandre Ermel/Divulgação
    Os atores Clemens Schick (esq.), Wagner Moura e Jesuíta Barbosa durante cena de 'Praia do Futuro', de Karim Aïnouz
    Os atores Clemens Schick (esq.), Wagner Moura e Jesuíta Barbosa durante cena de 'Praia do Futuro', de Karim Aïnouz

    Para Aïnouz, a ausência brasileira pode ser explicada, em parte, pela crescente autonomia do país para produzir e lançar seus filmes.

    "Nos últimos cinco anos, o Brasil passou a ter uma certa independência financeira para produzir seus filmes. Por um lado há uma autonomia. Mas também a produção se volta muito para o mercado interno, se comunica pouco com o resto do mundo."

    Dos cinco filmes de Aïnouz, apenas "O Abismo Prateado" não foi feito em regime de co-produção.

    "Praia do Futuro", co-produção Brasil-Alemanha, se passa em dois momentos. O primeiro em 2004, quando o salva-vidas cearense Donato (Wagner Moura) resgata o turista alemão Konrad (Clemens Schick), na praia do Futuro, em Fortaleza. Em seguida, ambos vão para Berlim.

    O outro se passa em 2012, quando o irmão de Donato, Ayrton (Jesuíta Barbosa), sai em busca do irmão na Alemanha.

    "É um filme de super-herói, mas quando ele tira a máscara. 'Praia' fala sobre gente que não tem medo, gente de coragem", explica Aïnouz. O trio de personagens principais é inspirado em três personagens dos quadrinhos: Motoqueiro Fantasma, Aquaman e Speed Racer.

    O diretor também quis dialogar com a recente onda de filmes de super-heróis, da trilogia do Batman de Christopher Nolan ao Homem-Aranha de Sam Raimi.

    "Eu adoro o que o Nolan fez com o Batman. Tem um negócio muito complexo. São super-heróis de carne e osso, e não de outra matéria, como pareciam ser de plástico, de aço", afirma.

    As filmagens ocorreram em 2012, mas a montagem segue em ritmo de "slow food" ou "operação tartaruga", segundo definições do próprio diretor.

    "O filme nem está pronto direito ainda por causa da vontade de ter um processo próprio. Acho importante decantar, redescobrir as cenas, fazer um filme a partir de uma manufatura mais artesanal."

    E brinca: "Mudei uma cena na semana passada. Coloquei três planos. Tirem esse filme da minha mão!"

    IMPROVISO X PLANEJAMENTO

    O choque cultural durante as filmagens na Alemanha era obviamente esperado. Do lado alemão, precisão e planejamento. Do brasileiro, improviso.

    "A locação precisaria ser escolhida com seis semanas de antecedência para termos todas as permissões de filmagem. Escolhemos um terreno baldio entre as locações, mas eu não estava satisfeito. Não estava bom, não ia dar certo", disse Aïnouz.

    Na segunda semana de filmagens, finalmente ele encontrou o lugar: o parque Hasenheide, em Berlim, próximo ao apartamento dele (atualmente ele se divide entre morar na capital alemã e em Fortaleza).

    Apesar da resistência de parte da equipe, das dificuldades para transportar equipamentos e conseguir novas permissões, o improviso teve um final feliz.

    "Sabe aquele 'Million Dollar Shot' [livro sobre um garoto que ganha US$ 1 milhão numa promoção após acertar um arremesso de basquete]? Aconteceu. Conseguimos captar uma chuva de granizo. A cena ficou impressionante", diz Aïnouz. A partir daquele momento, a equipe ficou mais à vontade.

    CONCORRENTES

    "Praia do Futuro" está na competição para o Urso de Ouro junto com os argentinos "La Tercera Orilla", de Celina Murga, e "Historia del Miedo", de Benjamin Naishtat.

    A seleção de 23 filmes inclui também o americano "Boyhood", dirigido por Richard Linklater ("Antes da Meia-Noite"), e o francês "Aimer, boire et chanter", de Alain Resnais ("Medos Privados em Lugares Públicos".

    Aïnouz estará também na Berlinale com a série "Catedrais da Cultura", parte de um projeto coletivo idealizada pelo alemão Wim Wenders, para a qual foram convidados cinco diretores, entre eles Robert Redford e Michael Madsen.

    Cada um ficou responsável por filmar em 3D um episódio sobre um prédio com arquitetura marcante. O brasileiro registrou o Centro Georges Pompidou, em Paris. "Eu não acreditava no 3D. Como não acredito em Deus. Mas depois de filmar, acho que tem um borogodó ali", diz.

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