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    Em peça com Laura Cardoso, idosos lavam roupa suja

    GUSTAVO FIORATTI
    DE SÃO PAULO

    18/01/2014 03h06

    Laura Cardoso, 86, não gosta de ser chamada de idosa. Prefere "vivida".

    O assunto "qual é o melhor termo para referir-se aos velhos" vem à tona durante uma entrevista no teatro do shopping Frei Caneca, onde ela entra em cartaz com a peça "A Última Sessão", que tateia justamente uma forma de abordar o tema. Sem preconceitos, supostamente.

    Alguns minutos antes de conceder entrevista à Folha, durante uma coletiva de lançamento do espetáculo, Laura disse: "Não sou daquelas velhinhas que ficam fazendo crochê". A peça, conta a atriz, evita retratar o velho como um coitadinho.

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Laura Cardoso em cena da montagem 'A Última Sessão', em que ela interpreta uma profissional que conduz sessões de terapia de grupo com idosos
    Laura Cardoso em cena da montagem 'A Última Sessão', em que ela interpreta uma profissional que conduz sessões de terapia de grupo com idosos

    Ops. Só que Sônia Guedes, 81, também no elenco, adora tricotar. "Mas ela é uma artista, o que ela faz não é crochê, é arte", conserta Laura, atrás de seus óculos Prada.

    Fazia mais de seis anos que ela não estreava uma peça. A última foi "Hoje Eu me Chamo Dinorá" (2007), adaptação de Maria Carmem Barbosa para texto de Janete Clair.

    "A Última Sessão" retrata um encontro de idosos numa sessão de terapia. Laura é a terapeuta, especializada em psicodrama.

    Na roda, os personagens falam, por exemplo, sobre a possibilidade de sexo na "terceira idade", que é um outro termo possível para referir-se ao homem e à mulher que passou dos 60, como aponta o diretor Odilon Wagner, 59, também autor do texto.

    Wagner prefere usar justamente as palavras que Laura recusa: para ele, quem está na terceira idade é "velho" ou "idoso". "O melhor, acho, é falar 'maturidade'", diz.

    "Melhor idade eu acho horrível. Pode até ser melhor sob alguns aspectos, mas sob outros não é, e para ser chamada de 'a melhor idade' acho que teria de ser melhor em todos os aspectos."

    No elenco, ainda estão outros veteranos das artes cênicas do país: Nívea Maria, 66, Etty Fraser, 82, Sylvio Zilber, 77, Miriam Mehler, 78, Gésio Amadeu, 66, Gabriela Rabelo, 70, Yunes Chami, 65, e Marlene Collé, 76.

    SEXO E BINGO

    No grupo de personagens, há pelo menos um ainda com vida sexual ativa.

    A terapeuta Elvira (Laura) entra em cena exibindo-se: "Desculpem o atraso, crianças, mas hoje tinha que ser um dia muito especial. Pois fiquei a manhã toda nos braços do meu gato. Bem melhor que bingo, não é?"

    A peça, no entanto, tenta não se restringir à questão da autoestima. Pelo contrário. Pouco a pouco, caminha para uma análise do passado dos personagens, com exposições de problemas conjugais, familiares, profissionais... Até um assassinato, de repente, vem à tona na trama.

    O público-alvo do espetáculo, inegavelmente, é o idoso. Wagner afirma ter buscado um retorno ao modelo antigo de apresentação, com cortinas que se abrem no início do espetáculo e se fecham ao final dele.

    Também haverá uma sessão matinê às quintas-feiras, às 16h. "A maioria das minhas amigas tem medo de sair à noite para fazer algo. Quando viram que ia ter sessão a tarde, elas vibraram", diz Etty Fraser.

    A ÚLTIMA SESSÃO
    QUANDO qui., às 16h, sex. e sáb., às 21h, e dom., às 18h
    ONDE teatro do shopping Frei Caneca (r. Frei Caneca, 569, tel. 0/xx/11/3472-2229)
    QUANTO R$ 80
    CLASSIFICAÇÃO 12 anos

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