"A Arte da Comédia" de Eduardo de Filippo, de 1964, não perdeu sua atualidade.
Ela confronta, no primeiro ato, a concepção teatral de um prefeito provinciano com a de um diretor mambembe.
Na segundo, a demonstração do jogo entre ser e parecer dá lugar à constatação da impossibilidade de diferenciar a interpretação de um papel da atuação no palco da vida.
Lenise Pinheiro/Folhapress | ||
Ricardo Blat em cena da peça 'A Arte da Comédia' |
A montagem de Sergio Módena capta bem a dimensão grotesca dos personagens e o ritmo cada vez mais acelerado da farsa. Contudo, apresenta a peça como clássico, abrindo mão da possibilidade de torná-la contemporânea e comentar sobre a atual cena teatral brasileira.
A cenografia (Aurora dos Campos) é responsável por um ar anacrônico. Funcional, delineia com poucos traços um pátio e depois o interior de uma prefeitura numa vila da Itália do pós-guerra.
O figurino (Antônio Medeiros) e a direção de atores também evita referências à classe artística ou aos políticos atuais que poderiam apontar para um necessário debate sobre políticas públicas.
No entanto, o espetáculo possui interpretações memoráveis de todo o elenco. Ricardo Blat interpreta o diretor com a esperteza de um Puck shakespeariano cujas referências ao prefeito nunca renunciam à rebeldia contra o poder que este representa.
Thelmo Fernandes é hilário como prefeito jovial, porém altivo no seu primeiro dia de trabalho. Sua tese autoritária consiste na separação clara entre palco e vida.
Quando ele entrega ao diretor, por engano, a lista dos dignitários que se apresentarão neste dia, este ameaça negar a tese do prefeito ao representá-los com sua trupe.
Nas visitas, o prefeito e seu secretário (Gustavo Wabner) afundam, de fato, cada vez mais na confusão sobre a verdadeira identidade deles.
Com destaque para o médico (Alcemar Vieira) e o padre (Celso André), o elenco diverte na representação dos relatos exagerados que poderiam ou não ser verdade.
Convencendo o espectador da teatralidade de todo comportamento humano, a força da montagem consiste em provar o poder da arte teatral.
A ARTE DA COMÉDIA
QUANDO sex. e sáb., às 21h, e dom. às 18h; até 23/2
ONDE Sesc Santana, av. Luiz Dumont Villares, 579; tel. (11) 2971-8700
QUANTO de R$ 4,80 a R$ 24
CLASSIFICAÇÃO 10 anos
AVALIAÇÃO bom