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    Versão ópera de 'Brokeback Mountain' estreia em Madri

    ASHIFA KASSAM
    DO 'GUARDIAN', EM MADRI

    27/01/2014 12h12

    É uma história que forçou os limites, nas telas e nos livros. Agora, "Brokeback Mountain", a trágica história do amor entre dois caubóis norte-americanos, está buscando desbravar ainda outro território inexplorado.

    Nesta terça (28) veremos a estreia da versão ópera de "Brokeback Mountain", em Madri. A produção se baseia no conto de Annie Proulx, publicado em 1997, que também inspirou o filme vencedor do Oscar em 2005.

    Depois de ler a história de Proulx sobre dois amantes condenados, o compositor Charles Wuorinen percebeu de imediato que ela tinha os contornos de uma ópera trágica. "Nas óperas do passado, havia um filho ilegítimo, ou uma diferença de classes sociais", disse Wuorinen. "O amor homossexual, especialmente caso aconteça em um ambiente no qual é absolutamente proibido, é uma versão contemporânea do mesmo problema eterno".

    O compositor norte-americano premiado com o Pulitzer procurou Proulx em 2007 a fim de pedir sua permissão para adaptar a história. Proulx foi além do que ele esperava, e se ofereceu para escrever o libreto.

    O resultado é uma produção que dá vida à versão de Proulx para a história, enfatizando a paisagem rústica do Wyoming. A cinematografia do filme dirigido por Ang Lee, embora bela, não capturou com precisão a verdadeira natureza da paisagem, disse Wuorinen. "A paisagem tem de ser magnífica e impressionante, mas também muito áspera e muito perigosa".

    O filme foi rodada na porção canadense das Montanhas Rochosas. Para a ópera, uma equipe gravou em vídeo imagens das montanhas do Wyoming que inspiraram a história. Um vídeo será projetado como pano de fundo para a produção, permitindo que a ópera se desenrole à sombra das montanhas. "O peso paradoxal que a montanha carrega", disse Wuorinen. "Fisicamente, essa ideia serve de pano de fundo".

    Ivo van Hove, o diretor cênico da produção, descarta qualquer comparação com o filme. "Não é uma adaptação do filme para o palco", ele disse. "As mulheres são estudadas com muito mais atenção, e a sociedade em torno deles é muito mais importante". E a ópera termina com uma ária do principal personagem, Ennis. "Ele canta seu amor. É um momento realmente grande na ópera".

    Embora o movimento LGBT tenha avançado imensamente desde que Proulx publicou "Brokeback Mountain" na revista "New Yorker", mais de 15 anos atrás, Van Hove espera que a ópera estenda a tradição de forçar limites associada à história. "Vivo e trabalho em Amsterdã. Nos últimos anos, mais e mais gays vêm sendo agredidos nas ruas. Não é só na Rússia, não é só na Índia. Continua a acontecer em países que são muito abertos quanto a isso".

    A produção foi originalmente encomendada por Gerard Mortier, em 2008, quando ele dirigia a Ópera de Nova York. Dois anos mais tarde, quando Mortier assumiu seu novo posto como diretor geral do Teatro Real, em Madri, ele levou o projeto para sua nova casa.

    Van Hove chegou a se preocupar por algum tempo com a mudança de local. "Porque afinal estamos falando de uma história muito americana. E sobre caubóis, que são personagens muito americanos".

    Ele ficou aliviado quando dois cantores norte-americanos, Daniel Okulitch e Tom Randle, foram escalados para os papéis principais. "Porque na Europa, quando alguém começa a interpretar um caubói, é fácil que isso se torne um clichê. Mas com esses dois cantores, não existe o risco. Não tivemos nem de falar a respeito".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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