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    'O Lobo de Wall Street', com quase 3 horas, é criticado por ser muito longo

    ERIC HYNES
    DO "NEW YORK TIMES"

    28/01/2014 03h00

    O que torna um filme comprido? Continuando o que se tornou uma espécie de tradição anual, os filmes de extensão considerável colonizaram as telas nesta temporada do Oscar, desde lançamentos de Hollywood como "O Hobbit: A Desolação de Smaug" (2h41min) até "O Lobo de Wall Street" e filmes do circuito alternativo, como "Azul é a Cor Mais Quente" (ambos com 2h59 min).

    Os filmes de Hollywood de alto faturamento incharam em tamanho para acomodar e justificar efeitos especiais dispendiosos. Mas os filmes feitos para ganhar prêmios são longos há muito tempo. A começar por épicos mudos como "O Nascimento de Uma Nação" (1915), os cineastas sérios cativaram o público durante duas horas e meia a três horas ou mais.

    Mas só porque estamos acostumados a filmes de prestígio serem demorados não quer dizer que eles não possam ser irritantes.

    Divulgação
    O ator Leonardo DiCaprio interpreta o corretor Jordan Belfort em cena do filme 'O Lobo de Wall Street'
    O ator Leonardo DiCaprio interpreta o corretor Jordan Belfort em cena do filme 'O Lobo de Wall Street'

    Pelo teor de algumas críticas, você pensaria que a editora Thelma Schoonmaker se esqueceu de cortar "O Lobo de Wall Street". A resenha de David Denby na revista "The New Yorker" menciona três vezes suas três horas de duração, enquanto Michael Phillips descreve uma cena que "demora dois minutos a mais" antes de acrescentar que "esses minutos se acumulam". Mas Schoonmaker disse que essa foi exatamente a intenção do diretor Martin Scorsese. "Um filme como 'O Lobo' se destina a ser extenso."

    Há uma arte em editar filmes mais longos. Um tempo de projeção prolongado permite que um terreno maior seja coberto, embora um terreno em que pode ser difícil manter o ritmo, para não falar na atenção do público. Poucos editores têm tanta experiência em filmes mais longos quanto Schoonmaker, que trabalhou em 18 filmes de Scorsese, seis dos quais tinham tempos de projeção superiores a duas horas e meia.

    "É difícil para as pessoas compreenderem a montagem", disse. "É como uma escultura. Você tem que dar uma forma àquela filmagem crua, sem edição e longa."

    Os editores dizem que um filme longo pode dar a sensação de que é ágil, enquanto um mais curto pode parecer interminável.

    "Um dos paradoxos do cinema é que às vezes um filme que parece longo demais pode ser curto demais", disse Joshua Oppenheimer, que supervisionou a montagem de seu documentário aclamado pela crítica "The Act of Killing" ["O Ato de Matar"] em três tamanhos diferentes (um "corte do diretor" de 160 minutos, uma versão americana para cinemas de 120 minutos e uma versão para televisão de 95 minutos). Um filme mais curto poderia ter um ritmo mais rápido, mas quando é cortado demais, segundo ele, "você não tem tempo para descansar, para entrar nos personagens da mesma maneira".

    Mas, como Oppenheimer queria que o filme chamasse a atenção para fatos históricos chocantes, ele optou por reduzir sua versão preferida para os Estados Unidos.

    "Que cinemas vão pegar um documentário experimental de duas horas e 40 minutos sobre o genocídio na Indonésia, do qual ninguém ouviu falar?", disse ele. Mesmo com uma duração menor, o filme esteve em diversas listas de fim de ano da crítica. "Eu acho que a reação ao filme justificou a opção", disse ele.

    Nesta primavera, a Magnolia Pictures vai lançar a escapada sexual de quatro horas de Lars von Trier, "Ninfomaníaca", em duas partes, com duas semanas de intervalo. Depois da segunda estreia, o filme inteiro poderá ser visto em sequência —mas só com a compra de ingressos separados. O mesmo vale para sites de "streaming" como iTunes, o que sugere uma nova maneira de se exibir filmes longos demais (e duplicar sua renda). O que poderia parecer excesso de filme no cinema poderá parecer adequado em casa.

    Inversamente, Frederick Wiseman, cujo documentário "At Berkeley" [Em Berkeley] dura 4 horas e 4 minutos, tem uma atitude de ame-o ou deixe-o.

    "Não tenho ideia de como pensar no público", disse ele. "Você não conhece seu nível de instrução ou quais são seus interesses e experiências. Eu faço o filme para preencher meus próprios critérios. Eu sou o público."

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