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    'Vi o declínio da Inglaterra; vou ver o dos EUA', diz escritor Martin Amis

    SYLVIA COLOMBO
    DE SÃO PAULO

    01/02/2014 03h01

    Sob a sombra da morte, Martin Amis desembarcou nos EUA em meados de 2011. Chegava para acompanhar a agonia do melhor amigo, o ensaísta britânico Christopher Hitchens, que no ano anterior fora diagnosticado com um câncer no esôfago.

    "Pensei que viveria mais, queria ficar com ele o máximo de tempo possível. Agora, resta experimentar o privilégio insano de seguir vivo em sua ausência", diz.

    Hitchens, autor de "Deus Não É Grande", considerado um herdeiro de George Orwell e líder intelectual da geração de Amis, Ian McEwan e Julian Barnes, morreria em dezembro daquele ano, aos 62 anos.

    Andreu Dalmau/Efe
    O escritor britânico Martin Amis em retrato de 2011
    O escritor britânico Martin Amis em retrato de 2011

    Amis, 64, conversou com a Folha por telefone, do Brooklyn, em Nova York, onde acabou instalando-se com a mulher e as duas filhas.

    "Não fugi de Londres. Vim por causa dele e por razões familiares. Está sendo interessante. Acompanhei o declínio político da Inglaterra nas últimas décadas. Agora, me parece que vou ver também o declínio dos EUA."

    CULTURA E POLÍTICA

    Seu novo romance, "Lionel Asbo: Estado da Inglaterra", está saindo no Brasil pela Companhia das Letras.

    Muito inspirado em suas conversas com Hitchens, trata-se de uma sátira ao modo como os britânicos se relacionam com a cultura das celebridades, contada por meio de uma aventura que se passa em Diston Town, um bairro imaginário de uma Londres decadente.

    "O culto à celebridade vazia e o declínio político estão muito relacionados entre si. Quando o que você diz não importa a mais ninguém no mundo, então você se fixa nas aparências. É o caso de Londres; politicamente, não tem mais nada a dizer", conclui.

    Amis crê que tanto o Reino Unido como a França sobreviveram bem a seu declínio geopolítico, enquanto o mesmo não deve acontecer aos EUA. "Em menos de 30 anos, a China os ultrapassará", diz.

    "A diferença é que o Reino Unido não tem um problema de identidade. Temos cultura, temos Shakespeare, temos o Parlamento, temos até a monarquia, não precisamos nos perguntar quem somos. O mesmo não pode ser dito dos EUA."

    RECONCILIAÇÃO

    Amis é filho do também escritor Kingsley Amis (1922-1995), referência do pensamento britânico do pós-Guerra, membro do grupo Angry Young Men (jovens homens revoltados).

    "Estou me reconciliando com ele agora e vendo uma continuidade." Amis pai foi membro do Partido Comunista, tornando-se depois um crítico da esquerda.

    Amis filho lançou-se na literatura nos anos 1970, mas foi com a chamada "trilogia de Londres" ("Grana", "Campos de Londres" e "A Informação") que atingiu o sucesso literário, explorando a crise da masculinidade e o declínio ocidental.

    "Tenho um fascínio pela vida dos trabalhadores, porque representam onde a sociedade se move."

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