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    Rio de Janeiro

    Banda de mascarados faz protesto 'vandalizando' hits

    MARCO AURÉLIO CANÔNICO
    DO RIO

    05/02/2014 03h09

    Mesmo em ritmo de rock, a melodia é facilmente reconhecível: trata-se de "Dancin' Days", sucesso na voz das Frenéticas. Já a letra...

    "A gente às vezes/sente/sofre/cansa/de te ver roubar. Na nossa testa/mete/chumbo. Morador de bem se fudeu/na UPP."

    Essa é a versão "vandalizada" do hit dos anos 1970, que ganhou o título "Cabral Vê se Vaza" —em referência ao governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB)—, feita pelos cariocas do Los Vânda, uma espécie de banda "black bloc" formada por cinco mascarados que adaptam canções conhecidas com bem-humoradas letras de protesto.

    Divulgação
    Os integrantes da banda carioca Los Vânda no estúdio onde gravam os vídeos
    Os integrantes da banda carioca Los Vânda no estúdio onde gravam os vídeos

    O grupo apareceu publicamente no final de agosto, postando vídeos no YouTube e no Facebook com versões que ecoavam os temas levados às ruas nos protestos populares.

    Até ontem, havia 16 canções "vandalizadas", entre elas sucessos de cantores como Roberto Carlos ("Remoções"), Tim Maia ("Do Paes ao Cabral"), Jorge Ben Jor ("Os Alckmins Estão Chegando") e até do Nirvana ("Smells Like Obama SPYrit").

    "A primeira ideia era de fazer uma espécie de bloco ou mesmo uma roda de samba inspirada principalmente no bloco Quanta Ladeira, de Recife, e no espírito esculhambativo do Carnaval", dizem os integrantes da banda à Folha, em entrevista por e-mail.

    Mas a partir dos protestos e da reação policial a eles, concluíram que a esculhambação estava imbuída de revolta e mudaram para o rock.

    O quinteto (vocal, baixo, bateria e guitarras) esconde seus rostos, geralmente com máscaras variadas —Homem de Ferro, Jason, Darth Maul, Galinha Pintadinha.

    O anonimato, segundo eles, é uma forma de "se colocar ao lado de quem se protege nas manifestações", mas também uma negação da "cultura do eu"."Não importa quem somos. Os vídeos, as músicas, falam por si."

    Os cinco dizem ser um grupo politicamente heterogêneo. "Nenhum de nós é de direita, tampouco é direito."

    Além de detonar políticos, a "grande mídia" e a PM, os vídeos mostram que a banda não é amadora —os vídeos são simples, mas com legendas, todos bem ensaiados, gravados no mesmo estúdio.

    O Los Vânda não tem planos para sair das redes sociais —já pensaram em fazer shows, mas não se esforçaram, e não cogitam lançar as canções em outro formato. Até porque acreditam que os detentores dos direitos não as liberariam.

    A Folha procurou alguns dos compositores de canções "vandalizadas" para saber o que acharam; apenas Nelson Motta, que teve as suas "Dancin' Days" e "Um Novo Tempo" usadas, se manifestou.

    "Por mim, podem fazer as paródias que quiserem com as minhas músicas. Só não podem me obrigar a ouvir. Divirtam-se", escreveu Motta.

    Para este ano de Copa e eleições, os rapazes dizem já ter várias músicas. "Adoraríamos não ter esse material todo, mas ele está aí, gritando na nossa frente, então vamos gritar também."

    HIT DE PROTESTO

    "O Paes" (versão do grupo Los Vânda para a música "A Paz", lançada em 1986 pelo cantor Gilberto Gil)

    Veja vídeo

    Assista ao vídeo em tablets e celulares

    O Paes invadiu o meu barracão
    De repente me encheu de gás
    Descobri que era remoção
    Minha casa foi toda ao chão
    Apanhei dos policiais

    O Paes foi provar que era valentão
    Esbofeteou um rapaz
    Quero ver é sair na mão
    Contra toda população
    Que reprova o que você faz

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