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    Crítica: Indicado ao Oscar, 'Philomena' comove com história sobre perda

    INÁCIO ARAUJO
    CRÍTICO DA FOLHA

    07/02/2014 03h17

    "Philomena" começa com a imagem de um jornalista político, Martin Sixsmith (Steve Coogan), em depressão após perder seu emprego no governo britânico. Em seguida é que entra Philomena (Judi Dench), senhora que, em sua juventude, na Irlanda, vivia num orfanato. Após uma gravidez inesperada, foi forçada pelas freiras a entregar seu filho de um ano a adoção.

    No dia em que o filho completaria 50 anos, Philomena tem em mãos a foto do menino que uma jovem freira lhe entregou em sigilo. É sua única prova da existência do menino. Sua angústia se manifesta com força nesse dia: quem seria hoje o menino, onde estaria, como se saiu na vida, será que algum dia ele pensou na mãe, ou chegou a lembrar-se dela?

    Daí começa a busca, na qual Martin se envolve por pura falta de opção. Ele despreza esse tipo de "matéria de interesse humano", mas é um profissional e vai se empenhar na busca.

    Divulgação
    A atriz britânica Judi Dench como a personagem Philomena em cena do filme homônimo, dirigido por Stephen Frears
    A atriz britânica Judi Dench como a personagem Philomena em cena do filme homônimo, dirigido por Stephen Frears

    Além de profissional, na verdade, Martin não é um grande fã do catolicismo: é ateu declarado e não compreende como Philomena pode ainda ser tão fiel à sua fé, depois da atrocidade que lhe fizeram as freiras.

    A partir daí a história se bifurca. Temos, por um lado, o drama (o melodrama, na verdade) de Philomena: a dor de não saber nada sobre próprio o filho, a dura luta para conseguir alguma informação só a partir da foto que, milagrosamente, ainda tem consigo.

    O segundo drama diz respeito à Igreja Católica, seus usos, costumes, certas crenças, seu apego à negação da sexualidade. Esse é o aspecto da história que mais parece interessar a Stephen Frears. A primeira parte da ação (a doação, na verdade venda de crianças) ocorre em 1957, pré-Concílio Vaticano 2º. E a segunda parte, em 2009, ainda no período de ortodoxia antissexualidade que marcou os pontificados de João Paulo 2º e Bento 16.

    Esse aspecto intransigente do catolicismo surge com força seja na figura da madre superiora (e a estranha teia que tece envolvendo a perda da castidade e os sofrimentos a que Philomena e outras "pecadoras" estariam condenadas), seja na de Michael, o filho, de cuja homossexualidade tomaremos conhecimento (sabe-se: os últimos papas foram restritivos quanto à sexualidade e ao uso de métodos anticoncepcionais).

    Se do ponto de vista da formulação intelectual esse é o eixo principal do filme, é a busca do filho perdido e o que a cerca que se mostra não raro comovente, não só pelas razões óbvias, como pela ligação que vai se criar entre essa mulher simplória e esse jornalista sabido, como a lembrar que a verdade não é feita apenas de simplicidade, mas também não só de sofisticação. Nem só de coração e nem só de intelecto.

    Diga-se a bem da verdade, Frears se desincumbe melhor da parte do coração. A do intelecto (a crítica à igreja) sucumbe pela frágil demonização de um ou outro personagem.

    PHILOMENA
    DIREÇÃO Stephen Frears
    PRODUÇÃO Reino Unido/EUA/França, 2013
    ONDE em pré-estreia no Kinoplex Itaim e circuito; estreia em 14/2
    CLASSIFICAÇÃO 10 anos
    AVALIAÇÃO bom

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