Qual a diferença entre agilidade e pressa? Na dramaturgia, é o ponto essencial entre entender ou não a história que nos é contada.
Mas nenhuma delas frequenta a praia de Manoel Carlos, que sempre preferiu as ondas tranquilas do naturalismo cotidiano e do Leblon.
Enquanto nos 20 minutos iniciais de "Amor à Vida", antecessora da faixa das 21h da Globo, a mocinha se formou em medicina, fugiu para o Peru, casou com um hippie, descobriu que era adotada, engravidou e voltou ao Brasil, "Em Família" gastou o relógio com juras de amor infantil, discussão de motoristas e um jogo de vôlei colegial.
A bossa nova de Maneco seguiu o ritmo de diálogos primorosos de café da manhã, na tentativa de construir uma relação do público com os personagens, numa crônica que se monta aos poucos.
Mas, em tempos de concorrência canibal e multiplataformas, uma história bordada a mão pode dar sono. A audiência da novela caiu para a casa dos 29 pontos já no segundo dia (cada ponto são 65 mil domicílios na Grande SP).
Pior: "Em Família" abriu mão de uma estreia com fatos impactantes para apostar numa passagem de tempo que confunde.
A Helena de Bruna Marquezine, muito bem em cena, não parece tão mais velha que a vivida pela atriz da fase anterior da personagem. Pior será quando a Helena adulta, interpretada por Julia Lemmertz, 50, surgir na tela chamando Natália do Vale, 60, de "mamãe".
O diretor Jayme Monjardim, feliz na fotografia das festas da novela, até tenta impor um ritmo mais acelerado, que se perde em cenas como a da cantoria do tema "Ao Mestre com Carinho".
Mas não há pressão por audiência que faça Manoel Carlos render-se a acontecimentos sem justificativa, personagens bipolares e histórias apressadas que são como colunas de areia onde nenhuma premissa pode se apoiar.
Resta saber se o público terá paciência para esperar o cimento do castelo de Helena secar.
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