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    Amazon diz que toma 'medidas cabíveis' em casos de pirataria

    RAQUEL COZER
    COLUNISTA DA FOLHA

    08/02/2014 03h03

    Por dois anos, as traduções do carioca Fernando Py para os sete volumes de "Em Busca do Tempo Perdido" foram comercializadas irregularmente na plataforma de autopublicação da Amazon.

    Cada um dos sete livros era vendido a R$ 8,31, sem a identificação de Py nem a anuência da Ediouro, para a qual ele fez as traduções.

    "Levei quatro anos para traduzir a obra. É claro que isso me aborrece. Nem tanto pelo dinheiro, mas, principalmente, pela exclusão do meu nome como tradutor", disse Py, ao tomar conhecimento.

    No caso, dada a qualidade das edições, não seria melhor se lhe fosse dado o crédito.

    "Há tantos erros de grafia, de formatação, de português, que fica difícil avaliar a qualidade da tradução e impossível aproveitar a leitura de um escritor que por si é de difícil leitura", escreveu, em setembro, um dos leitores que criticaram as edições no site.

    Questionada pela Folha, a Amazon informou que "medidas cabíveis são tomadas quando descobrimos títulos infringentes em nossa loja ou quando somos notificados por proprietários dos direitos sobre títulos infringentes".

    Sem o conhecimento da Ediouro (cujas edições estão indisponíveis) nem do tradutor, a loja só tirou os e-books do ar após a Folha questioná-la. Por "proteção à privacidade do usuário", não informou quem os vendia.

    "Liberamos informações pessoais e sobre contas quando acreditamos que a liberação é apropriada para cumprimento da lei", esclarece a empresa em seu site.

    Há dezenas de edições do gênero à venda na loja brasileira da Amazon (veja abaixo como reconhecê-las).

    Casos similares também foram identificados em outros países. Em 2012, depois que uma autora de livros eróticos descobriu dezenas de edições irregulares nos EUA, a rádio americana NPR questionou a empresa a respeito.

    Recebeu resposta similar à enviada agora à Folha, e concluiu que, "uma vez que você [o usuário] concorda com os termos [do contrato], a Amazon não é responsável".

    Pela Lei de Direito Autoral brasileira, quem vende uma obra fraudulenta é "solidariamente responsável com o contrafator". Gustavo Almeida, advogado especialista em direitos autorais, diz que a loja pode ser multada caso não tome medidas após alertas.

    Para ele, esse é um exemplo típico do "problema da transição de Gutenberg para o digital". "É algo a ser contemplado pelo Marco Civil da Internet", diz, sobre a regulamentação que abrange a responsabilidade de usuários e provedores e que tramita há anos na Câmara.

    COMO RECONHECER O CLÁSSICO PIRATA

    *- Falta de informações
    Em edições piratas de clássicos, a página de apresentação do livro não discrimina o nome da editora nem o do tradutor da obra

    - Sem folha de rosto
    Baixando a amostra grátis do e-book, pode-se ver se há a chamada "folha de rosto", presente em toda boa edição, com dados sobre a obra. Nas piratas, em geral entra-se direto no texto do livro

    - Diagramação ruim
    Edições piratas costumam ter problemas na formatação do texto, como quebras no meio de frases ou todo o conteúdo da obra num parágrafo só

    - Comentários de leitores
    Quem teve experiências ruins com a qualidade da edição costuma deixar críticas na página do livro no site

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