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    No Brasil, rap sobre gays, como 'Same Love', seria atacado, avaliam músicos

    GIULIANA DE TOLEDO
    DE SÃO PAULO

    13/02/2014 03h03

    Com o hit "Same Love", que apoia o casamento gay, a dupla Macklemore & Ryan Lewis mexeu no vespeiro do mundo dos machões do rap.

    Snoop Lion (ex-Snoop Dogg), 42, um dos principais nomes do estilo, já disse que gays não são bem-vindos. "Rap é masculino. É como um time de futebol. Você não pode estar num vestiário cheio de caras durões e, do nada, dizer 'Ei, cara, gosto de você", afirmou ao "Guardian".

    A declaração, em abril passado, era sobre a saída do armário do rapper californiano Frank Ocean. "Ele não é um rapper. É um cantor. Isso é aceitável no mundo dos cantores, mas, no mundo do rap, não sei se isso vai ser aceitável algum dia", completou.

    Mario Anzuoni/Reuters
    Macklemore, Mary Lambert, Madonna, Ryan Lewis e Queen Latifah durante apresentação no Grammy
    Macklemore, Mary Lambert, Madonna, Ryan Lewis e Queen Latifah durante apresentação no Grammy

    Nesta semana, o preconceito contra Ocean voltou à tona. O rapper T-Pain, em entrevista ao site VladTV, sem citar nomes, disse conhecer rappers que já se negaram a trabalhar com Ocean.
    Heterossexual, Macklemore —que se recupera do vício em drogas— diz dar a cara a tapa por convicção na causa.

    Em "Same Love", com vocais da cantora Mary Lambert, ele lembra que, quando criança, chegou a achar que fosse gay porque sabia desenhar e manter o quarto organizado. Contou aos prantos à mãe, que lhe fez ver além dos rótulos, diz a canção.

    No Grammy, o duo "causou", com Madonna e Queen Latifah, ao promover um casamento gay coletivo ao cantar a música, que foi adotada como uma espécie de hino em Estados americanos que buscam a aprovação da união.

    'HIPOCRISIA'

    E se um rapper brasileiro falasse sobre casamento gay? "Tenho certeza de que a polêmica seria muito maior [do que nos EUA] e receberia muitas críticas das pessoas do próprio movimento", diz o rapper paulistano Projota, 27.

    "Estamos atrasados. Aqui a gente recém começou a assimilar o fato de termos raps que não falem somente da periferia e não sejam voltados só para o 'periférico'", avalia.

    Para Gabriel O Pensador, 39, que citou o amor gay em "Se Liga Aí", a questão é tratada com hipocrisia no país. "Putaria pode, mas amor entre pessoas do mesmo sexo, não. Não faz sentido", diz.

    "O trabalho [de Macklemore e Lewis] tem conteúdo e personalidade, o que já é um diferencial enorme num cenário onde muitos usam e abusam de fórmulas de comportamento, postura, marra, ostentação", avalia o carioca.

    Apesar do "atraso" brasileiro, para Thaide, 46, um rap com tema gay poderia ser bem-sucedido, com as portas já abertas pela canção americana. "'Same Love' é uma música que mexe com a valorização do ser humano. Pessoas que não se sentiam apoiadas até então provavelmente vão fazer músicas assim agora."

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