Era julho de 2002 quando o diretor americano Richard Linklater gritou "ação!" no primeiro dia de filmagem de seu longa "Boyhood" (juventude, em tradução livre).

Linklater passaria os 12 anos seguintes reunindo o mesmo grupo de atores diante de sua câmera para capturar o efeito do tempo numa história sobre a transição entre a infância e a fase adulta.

O filme foi aplaudido de pé após a exibição, na última quinta-feira, na mostra competitiva do Festival de Cinema de Berlim. Ainda não há data de estreia no Brasil.

"Quando começamos a gravar, não tínhamos ideia de onde estávamos nos metendo", disse Linklater a jornalistas.

	Divulgação/Danny Moloshok/Invision/AP
	Ellar Coltrane, ainda criança, em 'Boyhood' (esq.), e agora

Segundo ele, no início, foi difícil conseguir bancar um projeto desse porte. "Foi um ato de boa-fé da parte de todos os envolvidos, porque ninguém sabia se ainda estaria vivo nos próximos 12 anos."

O longa é centrado na vida de Mason (Ellar Coltrane), que mora com a mãe, Olivia (Patricia Arquette) e com a irmã mais velha, Samantha (Lorelei Linklater, filha do diretor).

O pai das crianças é vivido por Ethan Hawke, parceiro de longa data de Linklater, com quem trabalhou na trilogia "Antes do Amanhecer"(1995), "Antes do Pôr-do-Sol" (2004) e "Antes da Meia Noite" (2013). Nesses filmes, atores envelhecem junto a personagens.

Ao longo dos 163 minutos de "Boyhood", o espectador acompanha o amadurecimento de Mason, do início dos estudos até a universidade. "Acho que o que fizemos com Ellar é até contra a lei", brincou Linklater. E resultado teve um lado emocional: "No fim, Ellar se transformou no filho que eu nunca tive."

As transições de uma fase para a outra são sutis e, segundo Linklater, de importância crucial para o sucesso do projeto. A trilha sonora serve para marcar períodos específicos no tempo -Coldplay, Wilco, Arcade Fire e Daft Punk sugerem o período em que as cenas foram gravadas.

"Surpreendentemente, a cultura não mudou muito durante o tempo de filmagem. Se tivéssemos feito esse filme entre os anos 1960 e 1980, por exemplo, aí sim teríamos observado mudanças drásticas."

Linklater admite dar continuidade ao projeto "Boyhood", como na trilogia com Hawke e Julie Delpy.