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    Crítica: Irmãos Coen criam seu próprio Bob Dylan em 'Inside Llewyn Davis'

    PEDRO BUTCHER
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    21/02/2014 03h06

    Diante dos filmes dos irmãos Coen, a crítica costuma se dividir entre aqueles que os consideram autores cínicos, que desprezam seus próprios personagens, e os que veem jornadas não convencionais conduzidas por anti-heróis, marcadas por um humor profundamente judaico.

    Qualquer que seja a facção, no entanto, é difícil negar que os Coen têm construído uma obra de rara solidez, com filmes de assinatura facilmente reconhecível mas, também, em eterno movimento.

    Em vários sentidos, "Inside Llewyn Davis" é um passo original, um desafio imposto pelos diretores/autores à sua própria trajetória.

    Divulgação
    O ator Oscar Isaac que vive o músico Llewyn Davis em cena do filme dos irmãos Coen
    O ator Oscar Isaac que vive o músico Llewyn Davis em cena do filme dos irmãos Coen

    Nesses tempos de supervalorização dos roteiros fundamentados na trama e na jornada do herói, os Coen realizaram um filme com um fiapo de trama e radicalmente concentrado em seu protagonista —possivelmente um dos mais difíceis anti-heróis a serem retratados em um filme.

    Llewyn Davis é um homem de forte tendência autodestrutiva, aquela figura agradável e doce que subitamente se transforma num monstro, pronto para estragar a festa. Davis é também um artista —um músico, que, como tantos, tem problemas com o sucesso. Sempre que essa possibilidade se avizinha, ele trata de arrumar uma forma de afastá-la de vez.

    "Inside Llewyn Davis", portanto, é um estudo de personagem, e não por acaso um dos acertos do filme é a escolha de uma não-estrela, o ator Oscar Isaac (com seu olhar que desperta compaixão), para viver o protagonista.

    O roteiro não segue cartilhas, dividindo-se em duas etapas claras: a primeira, uma recriação da cena folk do bairro de Greenwich Village, em Nova York, no começo dos anos 1960 (de onde saiu Bob Dylan); a segunda, um bizarro filme de estrada em que Davis viaja na companhia de um velho homem de jazz de Nova Orleans e um motorista calado.

    Nessa segunda parte, os Coen mostram que não estão para brincadeira, invertendo de forma extremamente original a estrutura do "road movie" e suas noções de "rota principal" e "desvios". No fim da estrada, sinto informar, não há redenção possível. Para Davis —e para desconforto do público— o sucesso não virá. O que talvez explique a presença tímida do filme na próxima cerimônia do Oscar.

    INSIDE LLEWYN DAVIS - BALADA DE UM HOMEM COMUM
    DIREÇÃO Ethan Coen e Joel Coen
    PRODUÇÃO EUA/França, 2013
    ONDE Playarte Bristol e circuito
    CLASSIFICAÇÃO 12 anos
    AVALIAÇÃO ótimo

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