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    Portugal deve abandonar 'submissão mansa', diz ensaísta Eduardo Lourenço

    MARIANA REZENDE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PÓVOA DE VARZIM

    24/02/2014 10h23

    Considerado o maior ensaísta português vivo, o escritor Eduardo Lourenço, 90, trouxe caráter político ao seu discurso na 15ª edição do evento literário Correntes d'Escritas, realizado na cidade de Póvoa de Varzim, em Portugal, e encerrado no último sábado (22).

    Segundo Lourenço, Portugal não pode continuar numa "submissão mansa". "Estamos cercados e imersos na cultura ocidental, que atravessa a maior crise que conhecemos até hoje. Estamos vivendo como uma civilização planetária, num momento de mudança de paradigma. E a cada dez anos é como se mudássemos de cultura, de planeta. Ainda não temos resposta porque essa resposta só pode vir do futuro, da resposta que dermos à crise", afirma.

    Alfredo Cunha/Divulgação
    O ensaísta português Eduardo Lourenço
    O ensaísta português Eduardo Lourenço

    Embora a crise não fosse o tema oficial do festival literário, o assunto foi recorrente nas mesas de discussão por muitos dos participantes do evento, entre eles autores, intelectuais e alguns dos principais editores portugueses.

    A sessão de abertura foi marcada pelo anúncio do vencedor do prêmio literário Casino de Póvoa, dado ao escritor Manuel Jorge Marmelo, 43, pela obra "Uma Mentira Mil Vezes Repetida" (Quetzal). O autor, que recebeu o prêmio no valor de 20 mil euros (cerca de R$ 64.384,12) na cerimônia de encerramento do evento, diz que "este prêmio vem no momento mais difícil da minha vida. Como tantos portugueses, estou desempregado".

    Entre os finalistas da premiação estava o autor brasileiro Michel Laub, com o livro "O Diário da Queda" (Companhia das Letras), lançado em Portugal pela editora Tinta da China em 2013.

    O escritor e colunista da Folha participou como um dos 15 nomes inéditos convidados pela edição de aniversário do festival, e debateu sobre questões autobiográficas que permeiam sua obra. Na mesa "A ficção nos livros é corrente de verdade", ao lado de nomes como António Mota e João Ricardo Pedro, o autor defendeu que a "verdade é sempre uma forma de expressão ficcional" e que considera as correntes, tema principal do evento, como "algo imprevisível ao longo do tempo", como "fluxos marítimos".

    Entre as discussões propostas sobre o significado da palavra "correntes", autores como o vencedor do Prêmio José Saramago de 2013, o angolano Ondjaki, Valter Hugo Mãe, Inês Pedrosa e o poeta e romancista Hélder Macedo, participaram do debate. Além de abordar o tema principal, Macedo falou sobre as posturas tomadas pelo governo português perante a crise. "Estamos sendo diariamente ofendidos neste país e estamos bem comportados demais. Temos a obrigação de sermos malcriados. Vamos celebrar o grande e universal manguito". Manguito, numa tradução livre para o português do Brasil, significa o dedo médio em riste.

    Divulgação
    Michel Laub na 15ª edição do Correntes d'Escritas, em Portugal
    Michel Laub na 15ª edição do Correntes d'Escritas, em Portugal

    Esta edição do festival Correntes d'Escritas aconteceu dos dias 20 a 22 de fevereiro e, além das mesas de discussão, contou com uma programação paralela com palestras em escolas locais, exposição de fotografias e serigrafias.

    Na segunda-feira, 24, uma extensão do evento acontece em Lisboa no Instituto Cervantes, e contará com a presença de Michel Laub, Filipa Leal e o poeta espanhol Antonio Gamoneda.

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