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    Wall Street pós-crise financeira repudia ternos ostensivos

    ALEX WILLIAMS
    DO 'NEW YORK TIMES'

    25/02/2014 03h00

    No filme de Martin Scorsese "O Lobo de Wall Street", não é difícil saber quando Jordan Belfort, o financista corrupto dos anos 1990 representado por Leonardo DiCaprio, fez sucesso em Wall Street.

    Em vez de usar ternos transpassados grandes demais, comprados prontos, ele passa a ser visto em ternos elegantes de risca de giz, num visual completado por um grande Rolex de ouro, mocassins Gucci e uma enorme gravata de seda vermelha.

    Naqueles anos em Wall Street, a definição do terno caro e ostensivo típico —pense em risca de giz azul, ombreiras, lapelas largas e uma gravata ousada, vermelha ou amarela— ocupava lugar de destaque na psique de homens jovens como Belfort.

    Divulgação
    Leonardo DiCaprio interpreta Jordan Belfort em cena do filme 'O Lobo de Wall Street
    Leonardo DiCaprio interpreta Jordan Belfort em cena do filme 'O Lobo de Wall Street'

    Envoltos no frenesi de um mercado em alta, os jovens candidatos ao sucesso em Wall Street sentiam que o terno desse tipo, conhecido como "power suit", não apenas lhes proporcionava a armadura psicológica necessária para a sobrevivência nas trincheiras das Bolsas, como também, com sua arrogância, assinalava a intenção de quem o trajava de usar qualquer meio que se fizesse necessário para chegar ao topo.

    Banqueiros e estilistas dizem que, na Wall Street pós-crise financeira, o código de vestimenta dos homens se afastou do consumismo conspícuo. "O 'power suit' ficou para trás", comentou Euan Rellie, banqueiro de investimentos casado com a editora de moda Lucy Sykes. "Hoje em dia, menos é mais. O setor financeiro está menos arrogante, e suas roupas, idem." Estamos muito distantes dos tempos em que Lamborghinis e ternos de ombros largos anunciavam a riqueza extrema de quem os usava.

    "Quando você tem alguém que fez sucesso incrível e não teve tempo para dedicar-se a polir seu estilo, o resultado são os anos 1980", comentou Sebastian Tatano-Ramirez, diretor criativo da Alexander Nash, criadora de ternos sob medida que atende uma clientela grande de Wall Street. "Hoje, parece que os homens bem-sucedidos finalmente entenderam o significado real de estilo."

    O equivalente contemporâneo ao "power suit" tende a ser mais discreto, segundo Tatano-Ramirez. Em lugar da risca de giz, com frequência é um terno mais justo, azul escuro ou cinza simples, ou possivelmente de um tecido de lã axadrezado em estilo escocês, com lapelas mais estreitas e ombros menos destacados. Pode ser usado com gravata mais estreita, de cor mais sóbria, possivelmente feita de lã, em vez de seda, para o espanto de alguns.

    Esse tipo de "power suit" moderno ainda pode custar caro (um terno da Alexandre Nash feito sob medida sai por até US$ 8.000), mas os sinais indicadores de status são sutis, disse Tatano-Ramirez. Ou seja, invisíveis exceto para quem reconhece a presença de casas de botão nas mangas ousadamente em uma cor diferente, abas laterais em vez de alças para cinto —um terno com caída perfeita não requer cinto para segurar as calças— e um forro irreverente, por exemplo em estampa "paisley" azul brilhante.

    Se o "power suit" de hoje é mais discreto, é porque o papel desse terno evoluiu consideravelmente desde os anos 1980.

    Para ter uma ideia de como era no passado, pense nas cenas iniciais de "O Lobo de Wall Street", que acontecem nos dias que antecederam o crash de 1987 e foram pesquisados exaustivamente pela figurinista do filme, Sandy Powell, para garantir a precisão de época. O jovem Belfort é visto como corretor júnior em um banco respeitado de Wall Street, onde encontra mais riscas de giz e azul-marinho que no vestiário dos New York Yankees. No auge do boom dos anos 1980, banqueiros e corretores adotaram um estilo dândi ostensivo que se adequava a seu novo status: punhos franceses com abotoaduras reluzentes, suspensórios em estampas ousadas. "Não era uma questão de moda", disse Powell, "mas de ostentar seu dinheiro."

    Esse look saiu de moda rapidamente durante a crise financeira de 2008 e, alguns anos depois, com o movimento Occupy Wall Street, contaram vários executivos de bancos. De repente, pareceu de mau gosto ou pessoalmente arriscado andar por aí ostentando seu status com suas roupas. "Não uso lenço dobrado saindo do bolso superior há anos", revelou um banqueiro de investimentos que tem 40 anos e pediu anonimato, devido à política seguida pela empresa para a qual trabalha.

    Isso não significa que o estilo tenha morrido em Wall Street.

    "O aspecto informal que se vê em setores como a mídia e a publicidade está começando a se infiltrar o setor financeiro", comentou Paul Trible, da Ledbury, empresa de moda de Richmond, Virginia, cujas camisas e gravatas são usadas por muitos homens jovens em Wall Street.

    Em última análise, o objetivo é um look que não grite "banqueiro" aos quatro ventos, mas o sussurre. "O tom apropriado a usar hoje é uma elegância que não requer muito esforço", disse Rellie. "Wall Street não quer mais se exibir, porque ninguém está olhando."

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