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    Religiosos se unem contra espetáculo 'Jesus Cristo Superstar'

    GUSTAVO FIORATTI
    DE SÃO PAULO

    26/02/2014 03h01

    Quarenta e três anos após "Jesus Cristo Superstar" estrear nos EUA, o musical com letras de Tim Rice e música de Andrew Lloyd Webber ainda é capaz de cutucar instituições religiosas no Brasil.

    O calo apertou no pé de grupos católicos de São Paulo, onde nova montagem estreia no dia 14, no teatro do "Instituto Tomie Ohtake, com direção de Jorge Takla.

    A Associação Devotos de Fátima colocou na internet petição defendendo o cancelamento do financiamento da peça com recursos públicos.

    Divulgação
    O ator Igor Rikli, que protagoniza o musical dirigido por Jorge Takla
    O ator Igor Rikli, que protagoniza o musical dirigido por Jorge Takla

    Com apoio da Associação Sagrado Coração de Jesus, o grupo espalhou sua mensagem de repúdio ao espetáculo e obteve adesão de blogs e páginas no Facebook.

    "Não é lícito ao Estado laico violentar barbaramente a fé de milhões de pessoas, promovendo, com o dinheiro dos contribuintes, o evento blasfemo que ocorrerá no dia 14 de março, com o lançamento da ópera-rock 'Jesus Cristo Superstar'", diz o texto.

    Produzida pela T4F, uma das maiores empresas de entretenimento do país, e a Takla Produções, a peça foi autorizada a captar R$ 5,7 milhões pela Lei Rouanet.

    A petição, que até a tarde de ontem havia reunido cerca de 26.500 assinaturas, é endereçada ao Ministério da Cultura e à ministra Marta Suplicy. "Não creio que esse Ministério teria coragem de promover 1% de algo que criticasse Maomé (ou mesmo Fidel Castro!...)", diz a carta.

    Em resposta, o ministério informou apenas que o musical foi autorizado em dezembro a captar via Lei Rouanet e que se enquadra como "espetáculo teatral".

    "Leigo de vida consagrada", Marcos Luiz Garcia, 60, coordenador de campanhas da Devotos de Fátima, disse à Folha que "não se trata de [pedido] de censura". "É um direito que temos de pedir que nosso dinheiro não seja utilizado para atacar nossos valores e nossa fé."

    Em que ponto, porém, a peça poderia atacar a fé cristã?

    Segundo Fábia Johansen, 27, membro da Devotos de Fátima e assessora da instituição e da Sagrado Coração de Jesus, a peça "ofende a imagem de Cristo porque apresenta uma versão da história a partir do ponto de vista de Judas e tem coreografias com mulheres seminuas". Ela diz ter visto a versão do musical para o cinema, de 1973.

    Também incomodaram, diz Fábia, os cartazes da nova produção brasileira, que mostram o ator Igor Rikli de peito nu como Jesus, "usando calça jeans sem camisa".

    "Toda obra de arte, quando é boa, pode ser considerada transgressora", responde Takla. "Só que 'Jesus Cristo Superstar' trata do tema com delicadeza e extremo respeito à Bíblia", diz o diretor, que se declara católico.

    Há na peça um questionamento sobre a fé. E algum ceticismo fica evidente nas falas de Judas, interpretado no Brasil por Alírio Netto. Exemplo: "Quando tudo isso começou, não te chamavam de Deus, você era apenas um homem", reclama Judas.

    Jesus, na peça, não faz milagres, mas, de resto (cuidado, spoiler à vista), morre crucificado. E torna-se mito, como em outras versões.

    Para o padre Tarcísio Marques Mesquita, indicado pela Arquidiocese de São Paulo para falar sobre o tema, a obra não desrespeita a figura de Jesus. "O musical faz uma atualização da imagem de Cristo, mas é uma ficção que deve ser lida como tal", diz. "Obras como esta, que trazem questionamentos sobre a fé, nos ajudam a amadurecer. Os religiosos também têm seus questionamentos. A única coisa é que achei aquelas cantorias meio chatas, para falar a verdade", conclui.

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