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    Bryan Cranston, ator de 'Breaking Bad', vive presidente na Broadway

    RAUL JUSTE LORES
    ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

    06/03/2014 03h11

    Um presidente expert em bullying, que não economiza palavrões e ameaças a subordinados e opositores, parece um papel sob medida para Bryan Cranston, o premiado ator da série "Breaking Bad".

    Mas a estreia de Cranston, 58, na Broadway com a peça "All the Way", vai além e já é um dos acontecimentos teatrais do ano nos EUA.

    Semanas depois de ter vencido o Globo de Ouro, o Emmy e o prêmio do Sindicato dos Atores pela interpretação do violento Walter White na televisão, Cranston eletriza a plateia por três horas a fio como Lyndon Johnson. A peça cobre os 11 meses em que Johnson precisa terminar o mandato de John F. Kennedy, após seu assassinato.

    Nesse período curto, o desbocado texano, extremo oposto de Kennedy, consegue aprovar a lei dos Direitos Civis, que acaba com a segregação racial nos EUA, declara guerra à pobreza, garante a nomeação como candidato democrata à Presidência e se elege com 61% dos votos, a maior porcentagem já registrada em eleições presidenciais americanas.

    Cranston, com seu 1,79 m, vira um gigante no palco (a voz ajuda) e convence facilmente como Johnson, que tinha 1,93 m.

    Ele contracena com 19 atores, que interpretam 60 personagens e na maior parte do tempo ficam sentados num plenário, de onde conversam por telefone com o presidente. Os personagens vão de ativistas negros ao governador segregacionista do Alabama George Wallace; de Martin Luther King à então dona do "Washington Post", Katherine Graham.

    O Salão Oval da Casa Branca fica no centro, e um telão ao fundo do palco faz a transição dos cenários, dos corredores do Congresso aos distúrbios raciais no Estado do Mississippi e à convenção do Partido Democrata.

    Como aconteceu antes no filme "Lincoln", de Steven Spielberg, a peça escrita em 2012 por Robert Schenkkan não alivia a sordidez dos bastidores da aprovação de leis muito nobres -o contraste com a paralisia atual em que se encontram Obama e o Congresso dominado por republicanos não é por acaso.

    E mostra os limites presidenciais. Johnson tenta demitir J. Edgar Hoover, o longevo primeiro diretor do FBI.

    O chefe dos espiões demonstra sua utilidade: "Há muita gente por aí especulando sobre sua vida sexual, sobre seus negócios com empresas petrolíferas, mas eu estou aqui para protegê-lo".

    Johnson manteve Hoover até o final de seu mandato. O público, que lota os 1.400 lugares do Neil Simon Theater, em Nova York, aplaude vigorosamente.

    Para os órfãos de "Breaking Bad", um retorno de impacto.

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