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    Crítica: Filme sobre os bastidores de 'Mary Poppins' é ficção chapa-branca

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    CRÍTICO DA FOLHA

    07/03/2014 03h04

    A busca de material para atender a uma suposta demanda do público por histórias baseadas em fatos reais começa a atrair os roteiristas para o outro lado do cinema. Depois de Marilyn Monroe, agora é a vez de Walt Disney surgir como personagem.

    O título "Walt nos Bastidores de Mary Poppins" é autoexplicativo. O filme narra a complicada participação da escritora Pamela Travers na adaptação de seu clássico infantil para as telas em 1964.

    Publicado 30 anos antes, o livro "Mary Poppins" fascinava Disney desde que ele descobriu que suas filhas adoravam a história das aventuras da babá e da família Banks.

    François Duhamel/Divulgação
    Emma Thompson como Pamela Travers e Tom Hanks como Walt Disney em cena do filme
    Emma Thompson como Pamela Travers e Tom Hanks como Walt Disney em cena do filme

    Travers é uma senhora cheia de manias e detesta o modo como o império Disney usa a imaginação para gerar milhões de dólares. Mas sua conta bancária está próxima do negativo e, após décadas de esforços, seu agente a convence a ceder os direitos.

    A escolha de Travers como protagonista poderia abrir espaço para o filme não se tornar apenas uma ficção chapa-branca sobre a infinita criatividade de Walt Disney.

    É a visão de mundo da escritora que conduz a história. Em meio a ela, uma série cansativa de "flashbacks" sobre sua infância visa a esclarecer a origem dos medos e fantasmas que rondam a família, tal como aparecem tratados com fantasia em "Mary Poppins".

    Emma Thompson interpreta a escritora no presente e sobrecarrega na caricatura, já que se trata de uma mulher britânica obcecada com fórmulas de tratamento e respeitabilidade. Assim, Travers parece mais um personagem histérico de desenho animado.

    À medida que ela adentra o mundo da fantasia do produtor, sua armadura cede, como demonstração de que os produtos Disney são tão irresistíveis que até o mais ressequido dos adultos amoleceria em contato com eles.

    E onde o criador Walt entra na história?

    Tom Hanks o humaniza na medida do possível, mas o retrato que o filme oferece ainda é muito blindado para parecer veraz. Claro que não se espera que uma produção Disney mostre o notório perfil autoritário do fundador, mas um pouco de imperfeição não faria mal à imagem.

    A breve referência à infância infeliz sob os maus-tratos do pai, Elias, surge apenas para autenticar a sinceridade de um diálogo, mas é enxotada para debaixo do tapete.

    Desse modo, os bastidores do mundo da fantasia nada mais fazem que reforçar o poder da marca. Sua função é apenas complementar as edições comemorativas dos 50 anos de "Mary Poppins".

    WALT NOS BASTIDORES DE MARY POPPINS
    (Saving Mr. Banks)
    DIREÇÃO John Lee Hancock
    PRODUÇÃO EUA/Reino Unido/Austrália, 2013
    ONDE Jardim Sul UCI e circuito
    CLASSIFICAÇÃO 12 anos
    AVALIAÇÃO regular

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