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    Deficiência vira técnica de dança em balé do grupo francês MPTA

    IARA BIDERMAN
    DE SÃO PAULO

    10/03/2014 03h07

    Um respeitável casal circula pelo palco. Ele de camisa branca, calça e paletó pretos, ela com um vaporoso vestido de noiva. Quatro músicos seguram seus instrumentos sem emitir um som.

    Para quebrar o silêncio e a sequência de movimentos repetidos mecanicamente, entra em cena o terceiro elemento, um homem sem uma perna, de muletas.

    É Hedi Thabet, 39, dançarino e artista de circo belga que concebeu o espetáculo junto com seu irmão Ali, 37.

    A coreografia "Nós Somos Semelhantes a esses Sapos...", do grupo francês

    MPTA, é uma das atrações da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, que acontece na cidade até o dia 16.

    Em sintonia com o objetivo da mostra de pensar o teatro de forma expandida, o trabalho do grupo francês também visa ultrapassar fronteiras. A coreografia contemporânea é acompanhada por música tradicional do Mediterrâneo; a dança é também circo; a deficiência física vira virtuose técnica.

    As referências vão das origens dos irmãos Thabet, filhos de mãe belga e pai tunisiano, à poesia moderna francesa -o nome do espetáculo vem de um verso do poeta René Char (1907-88), "Somos semelhantes a esses sapos, que na noite austera do pântano se chamam e não se veem".

    O grito de amor do sapo é dançado por Hedi, pela bailarina francesa Artemis Stavridi e pelo também francês Mathurin Bolze, diretor da companhia MPTA (iniciais em francês de mãos, pés e cabeça também).

    Com movimentos acrobáticos e inspirados em danças étnicas, os três corpos se buscam, se unem e se separam ao som de uma trilha sonora que parece ser executada por beduínos do deserto. Os músicos, que ficam no palco, são da Grécia e da Tunísia.

    Cantada em árabe, a música é um estilo criado por gregos que moravam na Turquia e foram expulsos do país.

    "Chama-se 'rebético' e é como o blues, uma lembrança: eles precisavam da música para saber de onde vieram, quem eram", diz Ali Thabet.

    Seu irmão Hedi usou a dança para descobrir isso. Espécie de criança-prodígio do malabarismo, ele começou no circo aos oito anos. Aos 18, teve um câncer de osso, que levou à amputação da perna.

    Após dez anos vivendo como "um sonâmbulo, sem projetos, nem expectativas", voltou a dançar, estimulado pelo amigo Mathurin Bolze, que o convidou para criarem juntos cenas coreográficas.

    "Começamos sem pensar em montar um espetáculo. Era como um jogo: como carregar um ao outro, como se equilibrar em uma perna, coisas que já fazíamos no circo", conta Bolze.

    Durante o trabalho, o diretor da MPTA também aprendeu a usar muletas e junto com Hedi as transformou em elemento cênico e as usou como apoio para acrobacias.

    O jogo cresceu e virou o espetáculo "Ali", que também será apresentado em São Paulo na mostra de teatro.

    NÓS SOMOS SEMELHANTES A ESSES SAPOS.../ALI
    QUANDO nesta segunda (dia 10), às 19h, e terça (dia 11), às 21h
    ONDE Centro Cultural São Paulo, Sala Jardel Filho, rua Vergueiro, 1.000, tel. (11) 3397-4002
    QUANTO grátis (ingressos devem ser retirados 60 min. antes do espetáculo na bilheteria do teatro)
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos

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