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    Galerias de Nova York descobrem nova onda de artistas brasileiros

    SILAS MARTÍ
    DE SÃO PAULO

    10/03/2014 03h11

    Na porta de uma galeria em Manhattan, o calor da conversa contrasta com as temperaturas abaixo de zero do inverno norte-americano. Fumando seus cigarros, dois galeristas da cidade esquadrinham o mercado brasileiro.

    "Estou louco para mostrar o Leonilson", diz Olivier Renaud-Clément, que inaugurou na semana passada uma mostra da artista Mira Schendel na Hauser & Wirth, em Nova York. "Você deveria correr atrás da Lygia Pape", rebate Denis Gardarin, que em maio fará uma mostra de Geraldo de Barros na cidade.

    Essa conversa entreouvida na entrada da mostra de Schendel, com obras à venda por até R$ 2,8 milhões, reflete um momento de caça aos artistas mais caros do país pelas galerias estrangeiras.

    Depois do sucesso atingido por Hélio Oiticica e Lygia Clark, com obras que já bateram a marca dos R$ 5 milhões, galeristas procuram novas estrelas para alimentar o mercado fora do Brasil.

    Mira Schendel despontou com força nessa onda. Depois de sua mostra na Tate Modern, em Londres, no ano passado, a Hauser & Wirth, uma das casas mais fortes do mundo, fechou um acordo com os herdeiros da artista para representar seu espólio.

    Mas ela não está sozinha. Na mesma galeria, Anna Maria Maiolino terá uma mostra em maio. Geraldo de Barros também será representado por uma casa nova-iorquina a partir do mesmo mês, enquanto o espólio de Oiticica já tem representação na ilha.

    Segundo a Folha apurou, herdeiros de Lygia Pape negociam com a poderosa galeria Gladstone, e há uma forte procura por Waldemar Cordeiro, Sérgio Camargo, Alair Gomes e Judith Lauand por grandes casas de Nova York.

    "A economia brasileira está indo para o ralo", diz Denis Gardarin, ex-diretor da White Cube e hoje dono da própria galeria em Manhattan. "Sabemos que o mercado vai sofrer uma deflação, então é bom investir agora, quando ainda está quente."

    PREÇO NAS ALTURAS

    Na entrada da Armory Show, feira de arte encerrada ontem e uma das mais tradicionais em Nova York, Glenn Lowry, diretor do MoMA, que em maio abrirá uma retrospectiva de Lygia Clark, foi mais conciso, dizendo que "as galerias sempre vão aonde há oportunidades".

    Esse novo foco do mercado, aliás, era bem visível na Armory, com obras de Lygia Clark, Waldemar Cordeiro e Sérgio Camargo ostentando preços nas alturas, de R$ 1,2 milhão por um relevo de Camargo a R$ 3,6 milhões pelo "Livro Sensorial" de Clark.

    "Está acontecendo um movimento de pegar os artistas brasileiros mais caros", diz Thiago Gomide, da galeria Bergamin. "Os estrangeiros estão correndo atrás para ver onde comeram bola, ver se não ficou um Oiticica para trás. Isso mostra a maturidade do mercado do país."

    Também revela a escassez de obras desse nível. Luciana Brito, que representa o espólio de Cordeiro e levou uma série de obras raras do pioneiro do concretismo paulista à Armory, conta que sua estratégia foi preservar as peças até agora para vender quando o mercado atingisse um momento de pico.

    "Todo mundo vendeu muito rápido seus acervos", diz Luciana Brito. "Essa arte de altíssimo nível, de qualidade 'AA', está em falta agora."

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