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    'Eu era invisível no colégio', diz Veronica Roth, autora de 'Divergente'

    RODRIGO SALEM
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

    22/03/2014 03h03

    Veronica Roth lutava todos os dias contra o tédio das lições da faculdade de psicologia. Nos intervalos, dedicava-se a sua grande paixão, a escrita. Mas o tema de uma das aulas chamou a atenção: terapia de exposição, um método que visa curar fobias e ansiedade jogando o paciente repetidamente em direção aos seus medos.

    "Parecia tortura para mim, mas era efetivo", diz ela à Folha. "Então decidi usar esse conceito poderoso em um livro de ficção científica."

    Da mistura de sonho adolescente e inaptidão para a psicologia de Veronica saiu "Divergente", primeiro livro da saga futurista de Beatrice (ou Tris) que já rendeu duas continuações literárias ("Insurgente" e "Convergente") e uma adaptação para o cinema, que estreou ontem nos Estados Unidos.

    Ao assinar com a poderosa editora HarperCollins, ela fez o que qualquer autora de respeito faria: se jogou em uma banheira cheia de marshmallows.

    Divulgação
    Em cena de 'Divergente', Tris (Shailene Woodley) se prepara para ato de iniciação em facção
    Em cena de 'Divergente', Tris (Shailene Woodley) se prepara para ato de iniciação em facção

    Não a culpe. Em 2010, quando se banhou no doce, Veronica Roth morava com a mãe e tinha 21 anos. Hoje, aos 25, mora sozinha em Chicago, é casada com o fotógrafo Nelson Fitch e observa sua trilogia vender 11 milhões de cópias, alcançando o topo da lista dos mais vendidos do "New York Times" e do site de vendas Amazon.

    "Quando escrevi 'Divergente', não imaginava que fossem ler meu texto, muito menos que faria sucesso e viraria filme", recorda a escritora. "Somente depois de fechar para o primeiro livro que a editora perguntou quanto tempo a história duraria. Pensei em mais dois livros, mas não havia um plano predeterminado."

    No futuro distópico de "Divergente", Chicago está entre ruínas e só não desaba de vez porque uma muralha protege de um mundo exterior hostil. Nesta redoma, os jovens precisam escolher cedo a qual facção pertencerá: abnegação, Amizade, Audácia, Franqueza e Erudição. "São baseadas em atributos que nos torna uma sociedade", explica.

    Resumindo: é uma versão das casas da escola Hogwarts, de Harry Potter, escrita por uma fanática por ficção científica. "Eu tinha 11 anos quando Harry Potter saiu e cresci com aqueles livros", admite Veronica, que cita ainda Madeleine L'Engle ("Uma Dobra no Tempo"), Lois Lowry ("O Doador"), Frank Herbert ("Duna") e Orson Scott Card ("O Jogo do Exterminador") como influências.

    Talvez por isso, seus livros sejam mais violentos que, por exemplo, "Crepúsculo" e até "Jogos Vorazes", em determinados momentos. Um deles, quando Tris (Shailene Woodley) precisa confrontar um dos líderes da sua facção, Audácia, termina com uma faca no olho do inimigo.

    Tão brutal que o diretor Neil Burger decidiu deixar de fora da versão cinematográfica, que estreia em 17 de abril, no Brasil. "Sei que autores podem ser sensíveis com adaptações, mas fiquei feliz, porque vi fotos da cena e eram horrorosas. Quando escrevi, levei na boa, mas ela é chocante visualmente."

    Bonita e elegante, Veronica Roth faz parte de uma nova geração de escritoras que vive essa intersecção entre diferentes mídias. Tem um blog ativo, responde aos fãs no twitter, faz uma ponta em "Divergente", mas nunca conversou com Shailene sobre sua visão de Beatrice.

    "Eu tinha fé nela", confessa. "Assisti a 'Os Descendentes' e lembro da cena dela chorando na piscina para ninguém ver. Sensível e durona, mas sem a obsessão em ser perfeita. Ela é Tris."

    Mas Veronica sabe seus limites. Não deseja seguir o caminho de J.K. Rowling pela literatura adulta e muito menos escrever algo como "50 Tons de Cinza". "Estou confortável com o rótulo de 'jovem adultos', que é usado de forma pejorativa. Não acho que adolescentes são bobos. Eles são volúveis, não sabem quem são, cometem erros... Mas não somos todos assim?", questiona ela.

    O trunfo da autora é não ser diferente das adolescentes que devoram seus textos. "Eu era anti-social no colégio, a garota esquisita do coral, que escrevia como hobby. Eu era invisível. A maioria dos meus colegas nem lembram de mim", afirma, antes de ser lembrada que "Convergente", o fim da trilogia, vendeu 455 mil cópias em um dia, ano passado. "É, talvez agora eles se lembrem de mim."

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