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    Novos romances distópicos para público jovem carregam na violência

    ÚRSULA PASSOS
    DE SÃO PAULO

    22/03/2014 03h01

    Standish Treadwell é um garoto de 15 anos que mora com o avô na zona sete, a região mais afastada e pobre de um país que vive sob um regime autoritário, a Terra Mãe.

    Ele é o herói que busca revelar uma grande farsa do governo em "Lua de Larvas", da autora inglesa Sally Gardner, que sai agora no Brasil pela editora WMF Martins Fontes.

    O livro ganhou no ano passado a Medalha Carnegie, prêmio britânico para livros infantojuvenis, e o prêmio Costa de literatura infantil.

    Divulgação
    Ilustração de Julian Crouch para o livro 'Lua de Larvas', de Sally Gardner
    Ilustração de Julian Crouch para o livro 'Lua de Larvas', de Sally Gardner

    Gardner constrói um país governado por uma ditadura violenta que persegue e sequestra opositores, como aconteceu com os pais de Standish, que ele não sabe se estão vivos.

    É ele, um jovem com problemas na escola por não conseguir escrever corretamente, quem conta sua história, de uma forma bastante peculiar, com idas e vindas.

    Standish é disléxico, assim como sua criadora, que também é ilustradora. "Eu tinha 14 anos quando finalmente consegui ler um livro. Mas eu costumava desenhar, criava teatros na minha cabeça", conta ela em entrevista à Folha por telefone, de Londres.

    Gardner, que não fala sua idade —"essa questão é sem sentido"—, escreveu e ilustrou mais de 30 livros desde 1993, dos quais seis infantis foram lançados no Brasil pela Rocco e um juvenil, pela Companhia das Letras.

    "Tudo o que Standish experimenta para ele é muito visual, então eu quis que a dislexia dele viesse à tona por seu imaginário", diz ela.

    Assim como seu personagem, ela também não gostava de ir à escola. "Minha vida na escola foi muito infeliz, eu não tinha como fazer aquilo dar certo para mim. Eu não conseguia nem amarrar meus sapatos, era muito diferente das outras pessoas."

    Não poder acompanhar as outras crianças a levou a inventar tramas. "Se você não pode ler e se cansa disso, tem que criar suas histórias."

    Eleonore de Bonneval/Divulgação
    A escritora inglesa Sally Gardner, em 24 de junho de 2013
    A escritora inglesa Sally Gardner, em 24 de junho de 2013

    A que ela criou em "Lua de Larvas" é tão violenta que não recomenda para crianças. "Nunca pensei que seria publicado, porque tinha um garoto morto pelo seu professor no playground", diz, referindo-se a uma das cenas mais fortes do livro.

    "Acho que é difícil fazer a violência parecer real, é preciso ser muito cuidadoso com o jeito como se faz isso. Queria que fosse simples, mas poderoso."

    O poder que ela busca com esse livro é o de fazer as pessoas valorizarem mais a liberdade. "A única maneira de fazer isso é questionando o que nos é dito como sendo a verdade o tempo todo, e não deixar que uma pessoa tenha todo o poder."

    Standish gosta de jogar o "e se" e imaginar outros rumos para a história que está contando. Foi assim também que o personagem surgiu para Gardner.

    "Pesquisei muito sobre a Segunda Guerra e fiquei muito interessada no 'e se', uma história do mundo alternativa: o que teria acontecido se determinada coisa não tivesse acontecido?", pergunta.

    Ela dá alguns exemplos. "E se Churchill tivesse morrido?". Segundo Gardner, a morte poderia ter acontecido nos anos 30, quando o estadista britânico foi atropelado por um táxi em Nova York.

    Outro exemplo: "E se o pouso na Lua pelos EUA foi um embuste?". É esse o "e se" mais importante para "Lua de Larvas". "Eu usei todas as teorias da conspiração [sobre o pouso na lua] que se acha na internet", revela rindo.

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