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    Escritor e jornalista Leonardo Padura mostra Cuba em mutação em SP

    SYLVIA COLOMBO
    DE SÃO PAULO

    22/03/2014 03h13

    Num texto recém-publicado pela revista "New Yorker", o jornalista americano Jon Lee Anderson definiu Leonardo Padura, 59, como um intelectual cubano singular.

    "Não se trata de um dissidente, ao estilo de Soljenítsin, mas também não é um escritor preocupado em apenas entreter. Um novo livro de Padura é tanto um importante documento como um romance, um modo de entender a realidade cubana", resume.

    São retratos de uma Cuba em transformação que o escritor e colunista da Folha trará para São Paulo, onde participa de um encontro promovido pela editora Boitempo e pelo Sesc, com apoio da Folha, no dia 15/4.

    Padura ainda estará na Bienal do Livro de Brasília (12/4) e no Rio de Janeiro (16/4).

    Em entrevista à Folha, ele afirmou estar interessado em discutir as transformações do jornalismo e da literatura na era digital. "Enquanto no jornalismo queremos coisas cada vez mais rápidas, creio que aumenta a demanda por longas narrativas. Há uma busca por leituras de fôlego."

    Sua obra mais importante é "O Homem que Amava os Cachorros" (Boitempo), romance de 585 páginas que narra a história de Ramón Mercader, o assassino de Trótski, nos anos que passou refugiado em Cuba.

    O agente espanhol foi para a ilha, acolhido pelo regime de Fidel Castro, após 20 anos preso pela morte do líder revolucionário soviético.

    "Vivemos um período em que há muito mais informação disponível para investigar esse tipo de episódio. Usei os arquivos soviéticos que estiveram fechados por tantos anos. Há um campo rico para os jornalistas buscando temas para narrativas."

    JORNALISMO VIVO

    O aprendizado da crônica ocorreu em Cuba mesmo, durante a juventude. Padura trabalhou nas publicações "Caimán Barbudo" e "Juventud Rebelde". Na época, o jornalismo cubano era muito vivo e contava com recursos. "É uma realidade que não existe mais. Essas publicações estão desaparecendo, mas os meios digitais abrem mais opções, não sou pessimista."

    Uma excelente coletânea de seus textos jornalísticos foi recentemente lançada em Buenos Aires. Trata-se de "El Viaje Más Largo", com artigos sobre comunidades que compõem a sociedade cubana.

    As vozes dos sobreviventes dos primeiros grupos de imigrantes chineses e catalães, por exemplo, estão ali. "São retratos, muito humanos. Não são crônicas diretamente políticas, mas no fundo são, sim, sobre política."

    Este é um assunto, aliás, que Padura trata de forma cuidadosa. Aponta problemas do regime, mas vê avanços e mais liberdade. "Creio que tudo será definido pelo desempenho econômico dos próximos anos", afirma.

    Vivendo no bairro em que nasceu, Mantilla, em Havana, Padura se diz confortável. "Já senti vontade de sair do país, mas hoje creio que o mais importante é ficar."

    Faz questão, porém, de lembrar os artistas cubanos que se exilaram com a esperança de conhecer uma Cuba democrática, mas que morreram sem ver o sonho realizado, como a cantora Celia Cruz (1925-2003), os escritores Guillermo Cabrera Infante (1929-2005) e Severo Sarduy (1937-1993), entre outros.

    "Já é possível comprar livros e ouvir músicas desses artistas, que circulavam na clandestinidade. Cabrera Infante é fundamental para o modo como escrevo. É importante que a jovem intelectualidade cubana possa ter acesso à sua história."

    ENCONTRO COM LEONARDO PADURA
    QUANDO 15/4
    ONDE Teatro Anchieta do Sesc Consolação - r. Dr. Vila Nova, 245, tel. (11) 3234-3000
    QUANTO grátis (retirada de ingressos 1h antes)

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