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    Brasileiro vende versão digital de livro de memórias de Hitler por dois dólares

    BEATRIZ MONTESANTI
    DE SÃO PAULO
    FABIO VICTOR
    EDITOR-ADJUNTO DA "ILUSTRADA"

    25/03/2014 02h03

    Na seção de livros raros da biblioteca Mário de Andrade, no centro de São Paulo, há um volume de "Minha Luta" de 1939. A cópia, disponível para consulta com hora agendada, é uma das primeiras edições publicadas no Brasil, com tradução do alemão pelo major cearense Júlio de Matos Ibiapina.

    Nos anos 1930, a editora gaúcha Globo, depois incorporada pelas organizações Globo, comprou os direitos de publicação e imprimiu sete edições.

    Em 1962, a editora Mestre Jou publicou a oitava edição, com a tradução de Ibiapina, que ficou meses em circulação e foi apreendida pelo Ministério da Justiça por fazer "propaganda de processos violentos para a subversão da ordem política e 'social vigente'".

    Em 1990, uma editora gaúcha antissemita, a Revisão, de Siegfried Ellwanger Castan, passou a vender a obra —entre outros títulos nazifascistas. Castan foi condenado a quase dois anos de reclusão por incitação ao racismo.

    A partir dos anos 1980, a editora paulista Moraes (que viraria Centauro) publicou a obra, com uma tradução atribuída a Klaus von Puschen —nome considerado uma farsa pela tradutora Denise Bottmann, que denuncia traduções piratas no blog Não Gosto de Plágio.

    Segundo ela, o texto feito "pelo tal Von Puschen" é exatamente igual ao de Ibiapina, dos anos 1930.

    Em 2008, os irmãos Almir e Adalmir Caparrós Fagá, da Centauro, receberam uma carta do governo da Baviera exigindo que a publicação parasse imediatamente, pois os direitos não haviam sido concedidos. Os irmãos tiraram a obra do catálogo.

    VERSÃO DIGITAL

    "Mein Kampf" ainda é publicado no Brasil, em formato digital e em inglês.

    O advogado Alexandre Pires Vieira é o responsável por uma versão disponível por US$ 2 (R$ 4,60) em lojas virtuais como Amazon e Apple Store, que chamou a atenção de sites estrangeiros.

    Para ele, os direitos da Baviera não valem no Brasil. "Pela lei brasileira, o Hitler não deixou sucessor, então dentro do território brasileiro [a obra] está em domínio público", diz.

    Segundo o professor de direito da USP Antônio Carlos Morato, a questão é mais complexa. "Herdeiro vai além de filho. Um bem também pode ser desapropriado com base em interesse público."

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