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    Peça de Tchékhov utiliza 200 km de fios no cenário

    GABRIELA MELLÃO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    26/03/2014 03h10

    Duzentos quilômetros de fios revestem o teatro do Sesc Bom Retiro. Dispostos com pequenos espaços entre si, nas laterais e no fundo do palco, são o cenário de "O Jardim das Cerejeiras", peça que estreou no último sábado.

    Os fios simbolizam as diversas camadas que o dramaturgo russo Anton Tchékhov (1860-1904) imprimiu nos personagens de sua obra, considerada fundamental sobretudo por iluminar a complexidade do homem.

    "Busquei enfatizar o impressionismo de Tchékhov. Embora seja considerado realista, ele escapa desta linguagem. Sua obra tem lirismo, e seus personagens, espaços internos vastos", diz Marcelo Lazzaratto, diretor da premiada Cia. Elevador de Teatro Panorâmico.

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Os atores Pedro Haddad e Carla Kinzo, em ensaio de 'O Jardim das Cerejeiras'
    Os atores Pedro Haddad e Carla Kinzo, em ensaio de 'O Jardim das Cerejeiras'

    O encenador interfere de forma poética nesse texto sobre o declínio de uma família aristocrática em meio às mudanças do início do século 20. Usa o corredor de fios como "campo de latência, da possibilidade do vir a ser", diz.

    O cerejal do título simboliza a Rússia. As diferentes percepções dos personagens sobre essa terra sintetizam as divergências de classes.

    Para a aristocrática Liuba, dona do jardim cuja terra vai a leilão para o pagamento de suas dívidas, as cerejeiras representam poder e beleza.

    Para o comerciante Lopakhin, as cerejeiras não possuem atributo nenhum. Apenas o local onde se encontram tem valor, o qual, segundo sua visão, deve ser loteado para a construção de chalés de veraneio.

    Na busca por retratar a vastidão do homem, Lazzaratto também escala mais de um ator para interpretar um mesmo personagem. No caso de Firs, o empregado idoso da família, vai ainda mais longe. Todo o elenco vive Firs.

    "A ideia é reforçar camadas e contradições, tornando personagens mais grossos e largos", explica Lazzaratto.

    Na última cena, a atriz Carolina Fabri, a mesma que vive Liuba, interpreta o serviçal Firs. A sobreposição de extremos em um só corpo evidencia a dimensão filosófica da peça, materializando as transformações da vida.

    O JARDIM DAS CEREJEIRAS
    ONDE Sesc Bom Retiro, al. Nothmann, 185, tel. (11) 3332-3600
    QUANDO sextas, às 20h, sábados, às 19h, e domingos e feriados, às 18h; até 11/5
    QUANTO de R$ 4,80 a R$ 24
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos

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