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    Artista censurada na França por causa de obra com absorventes expõe em SP

    SILAS MARTÍ
    DE SÃO PAULO

    31/03/2014 03h00

    Quando Joana Vasconcelos pendurou seu enorme lustre feito de absoventes femininos na entrada da Bienal de Veneza há quase dez anos, a artista portuguesa queria dar um exemplo de como seu trabalho é uma "desconstrução do universo doméstico".

    Também questionava os estereótipos do escultor.

    "Sou uma escultora mulher num mundo masculino", diz Vasconcelos, que abre agora duas mostras em São Paulo em paralelo à feira SP-Arte. "A imagem de um escultor é a de um homem, macho, de barba, fazendo coisas sérias usando metal ou pedra."

    Vasconcelos é séria, mas passa longe das pedras. Ela se firmou no circuito global com enormes esculturas em tecido colorido, peças em crochê e costura que desafiam a escala da arquitetura sem perder o que ela vê como um toque feminino em sua obra.

    Divulgação
    Instalação "Royal Valkyrie', da artista portuguesa Joana Vasconcelos em Versalhes, na França
    Instalação "Royal Valkyrie', da artista portuguesa Joana Vasconcelos em Versalhes, na França

    "Todos os meus trabalhos refletem um universo doméstico em mutação", diz a artista. "Essa coisa da mulher que trabalha com tecido é muito chata, então quis fazer algo na escala da arquitetura. É transformar o doméstico em arquitetura, algo que tenha uma dimensão construtiva."

    Seu exemplo mais marcante disso foram as intervenções que realizou há dois anos no palácio de Versalhes, perto de Paris, ocupando as salas da antiga residência real com criaturas gigantes que serpenteavam entre os pilares e se multiplicavam refletidas nos espelhos rococó.

    Mas foi ali, no cenário mais extravagante que já ocupou, que ela sofreu um ato de censura. Seu lustre de absorventes, que já viajara o mundo, não pôde estar na mostra por ordem da direção do palácio.

    "Essa era a peça número um da mostra", diz a artista. "A diretora na época era muito conservadora. E por eu ser mulher e estar falando de coisas das mulheres, eu fui censurada por outra mulher."

    Na mesma pegada "mulherzinha", mas sem censura, a artista também criou esculturas em forma de flores usando ferros de passar e enormes sapatos de salto alto construídos com panelas.

    Enquanto sua intervenção no Pivô, centro cultural no edifício Copan, terá uma criatura da mesma família de Versalhes subindo a escadaria, sua exposição que começa hoje na galeria Casa Triângulo traz uma série de bichos de cerâmica, de vacas a caranguejos, enredados em crochê.

    "Essa era a forma de expressão da mulher", diz a artista. "Estou aprisionando e domesticando esses animais com o tecido. Você via pelo crochê se a mulher era mais ou menos culta."

    JOANA VASCONCELOS

    QUANDO na Casa Triângulo, abre na segunda (31), às 18h, de ter. a sáb., das 11h às 19h; até 10/5; no Pivô, abre 5/4, às 10h; de ter. a sex., das 13h às 20h; sáb., das 13h às 19h; até 27/4
    ONDE Casa Triângulo, r. Pais de Araújo, 77, tel. (11) 3167-5621; Pivô, av. Ipiranga, 200, tel. (11) 3255-8703
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