Em busca de novidades na cena teatral do Brasil, a colombiana Anamarta de Pizarro, diretora do Festival Iberoamericano de Teatro de Bogotá, veio ao país no ano passado. Foi quando assistiu a "Gonzagão — A Lenda" e ficou encantada.
"Eu me apaixonei. A música é um elemento muito importante da cultura brasileira. Logo pensei em trazer o espetáculo a Bogotá, como uma homenagem ao Brasil", disse Pizarro à Folha.
Seu plano deu certo: nesta sexta-feira, o musical, com direção de João Falcão, será apresentado para 1.400 pessoas no Teatro Jorge Eliécer Gaitán, no centro da capital colombiana, durante a abertura da 14ª edição do festival de teatro de Bogotá.
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A atriz Ondina Clais Castilho (centro) como a prostituta Geni na peça 'Toda Nudez Será Castigada' |
O Brasil é o convidado de honra do evento e levará ao país outras seis peças, além do bloco "Os Negões", de Salvador, que fará o desfile inaugural dos espetáculos de rua, no sábado. "Será um grande Carnaval", prevê Pizarro.
O festival colombiano, realizado bienalmente, tem 26 anos, é considerado o maior da América Latina e está entre os maiores do mundo.
"As peças se espalham por uma cidade com cerca de 8 milhões de habitantes", diz a diretora.
Nesta edição, companhias de 25 países dos cinco continentes apresentarão mais de 50 peças em 16 dias. Isso sem contar a participação de 39 grupos colombianos.
Entre as atrações, são destaques a montagem russa da peça de William Shakespeare "A Tempestade", do diretor britânico Declan Donnellan, e uma minimostra de países nórdicos, incluindo obras da Finlândia, da Dinamarca e da Noruega.
Do Brasil, irá a Bogotá uma mistura de peças consagradas. Há desde "Toda Nudez Será Castigada", de Nelson Rodrigues, dirigida por Antunes Filho, até montagens de dramaturgos mais jovens.
Entre as últimas está a peça "Maravilhoso", com texto de Diogo Liberano, também escolhida por Pizarro.
"É uma obra que fala ao público jovem. Fiz uma aposta e não me equivoquei, porque já foram vendidos 98% dos ingressos."
A seleção brasileira ainda inclui "O Jardim", da Cia. Hiato, "A Dama do Mar", dirigida por Bob Wilson, "Amores Surdos", da companhia Espanca!, e o teatro de rua do Grupo Galpão, com "Till, a Saga de um Herói Torto".
PRIMAVERA
A escolha das peças foi feita pela curadoria do festival. O pedido do governo brasileiro, segundo Pizarro, foi que a programação contemplasse jovens dramaturgos e refletisse a cena teatral do país.
Para a diretora, o trabalho foi difícil porque "o Brasil vive uma primavera teatral. Tivemos que deixar muita gente boa de fora".
"Claro que, se pudéssemos, levaríamos muito mais obras. Mas oito é bastante, é uma oportunidade para o Brasil se mostrar no exterior", afirma a ministra da Cultura, Marta Suplicy.
A ministra vai à Colômbia para a abertura do evento. Entre os participantes brasileiros, cinco grupos têm apoio dos ministérios da Cultura e das Relações Exteriores.
Na abertura do festival será lançado um livro com 14 obras de novos dramaturgos brasileiros traduzidas para o espanhol. Leituras dramatizadas dos textos estão na programação do evento.
"O livro será depois traduzido para outras línguas", afirma Rodrigo Almeida, chefe do setor cultural da Embaixada do Brasil na Colômbia.