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    Museu de Arte de São Paulo acumula dívidas e negocia troca de diretoria

    MARIO CESAR CARVALHO
    SILAS MARTÍ
    DE SÃO PAULO

    10/04/2014 03h01

    Nunca uma crise tão grave atingiu o Masp. Com dívidas de pelo menos R$ 8 milhões, atrasos nos pagamentos dos funcionários e pendências no Ministério da Cultura, o maior museu da América Latina enfrenta restrições para captar recursos por leis de incentivo.

    Por isso, está pedindo a ajuda de grandes empresas.

    Uma negociação entre a cúpula do museu e empresários está em curso para iniciar um resgate e trocar o comando da instituição —exigência de eventuais parceiros.

    Marlene Bergamo/Folhapress
    Detalhe do Masp (Museu de Arte de São Paulo)
    Detalhe do Masp (Museu de Arte de São Paulo)

    O nome em discussão para liderar uma nova diretoria é o do empresário e consultor financeiro Heitor Martins, ex-dirigente da Fundação Bienal de São Paulo, responsável por tirar a entidade da crise.

    Um trunfo dele é ter atraído o apoio financeiro do Itaú.

    Martins pode substituir a atual presidente, Beatriz Pimenta Camargo, na função há um ano, ou ocupar outro cargo no museu —o Masp é uma associação privada que recebe recursos das três esferas de governo, mas não aceita que representantes delas participem de sua gestão.

    "Não posso falar nada ainda, além do fato de que eu gostaria de contribuir", diz Martins à Folha. "O Masp é um ícone, uma instituição incrível e sempre tivemos discussões sobre o museu. Mas não há nada de concreto."

    A crise não é nova. O Masp já enfrentou corte de luz e telefone em 2006 e, no ano seguinte, foi invadido por ladrões que levaram quadros de Picasso e Portinari —a porta por onde eles entraram está corroída na base até hoje.

    Com problemas na prestação de contas de cinco projetos ao Ministério da Cultura, o Masp sofre para realizar novas exposições neste ano, já que terá dificuldades de captar recursos por mecanismos federais de incentivo.

    O anexo do museu já está descartado. Uma parceria feita com a Vivo no prédio ao lado tem obras paralisadas desde 2012, quando o prédio deveria ter sido inaugurado.

    No final do ano passado, a empresa de telefonia cobrou do museu a devolução do patrocínio ao prédio, entregue em 2006 —R$ 23 milhões em valores atualizados.

    Enquanto isso, Heitor Martins vem se reunindo desde novembro com a direção do Masp e já sondou profissionais para sua eventual diretoria, como o advogado Alexandre Bertoldi, o professor e colecionador Miguel Chaia e o empresário Nilo Cecco.

    "Ele [Heitor Martins] me perguntou se eu participaria do grupo", afirma Cecco. "Não tive contato maior ainda com o Heitor, mas acho fantástica essa ideia dele."

    Um integrante da diretoria do Masp afirma que uma troca de comando chegou a ser discutida em outubro numa reunião dos sócios do museu, o grupo de membros vitalícios com maior poder de decisão.

    Outra reunião, que pode ocorrer neste mês ou no mês que vem, deverá ter na pauta a mudança de estatuto da instituição, para permitir uma reforma de sua diretoria.

    Embora Martins já tenha travado longas conversas com o Masp e desenhado um time próprio, ele ainda precisa arregimentar parceiros.

    Mesmo tendo manifestado interesse, o banco Itaú aguarda confirmação de outras empresas, entre elas o Bradesco, que, segundo negociadores, estuda entrar na iniciativa. O banco não confirma.

    Os governos municipal e estadual apoiam a mudança, já que esperam, com isso, participar da gestão do museu.

    Por meio de sua assessoria, o Masp informou que estuda "um novo modelo para garantir sua sustentabilidade.

    Colaborou MATHEUS MAGENTA, de São Paulo

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