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    Nicolas Cage constrói nova reputação

    ROBERT ITO
    DO 'NEW YORK TIMES'

    15/04/2014 04h45

    Após interpretar personagens como um pai cego de um olho que toma cerveja no crânio de seu inimigo ("Fúria sobre Rodas") e um motociclista que pode fazer sua cabeça arder em chamas ("Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança"), Nicolas Cage ganhou a reputação de ser um ator cuja paixão por filmes de ação o afastou, na última década, daquilo que ele faz de melhor, ou seja, atuar.

    Comédias espirituosas e filmes independentes sérios deram lugar a pancadarias, sangue e explosões. Os críticos ansiavam pelo Nic de antigamente.

    Por isso, vale salientar que, quando procurava papéis para seu próximo filme em 2012, Cage queria algo um pouco mais moderado. "Tenho feito coisas mais barrocas e operísticas", disse. "De certa maneira, as considero um kabuki ocidental, no qual eu imprimia um tom mais estilizado."

    Para Cage, que ganhou o Oscar por sua interpretação de um roteirista fracassado que se suicida ingerindo quantidades letais de bebida alcoólica ("Despedida em Las Vegas", em 1995), moderação pode ser um termo relativo. Então ele achou "Joe", baseado em um romance de Larry Brown.

    Cage interpreta o personagem-título do filme, um capataz pobre de um grupo de trabalhadores que envenenam árvores ilegalmente para ganhar a vida. Joe tem um temperamento explosivo que tenta manter sob controle, mas, quando cruza com dois indivíduos muito depravados, a situação degringola rapidamente.

    "Joe", que tem lançamento mundial neste mês, marca um retorno de Cage a sua antiga forma. David Rooney, do "Hollywood Reporter", salientou a "personificação magistral de um homem em conflito consigo mesmo" empreendida por Cage.

    Em uma entrevista no Polo Lounge, Cage, que fez 50 anos em janeiro, falou com sua voz lenta e peculiarmente musical sobre o filme. "Eu cresci escutando atentamente meus atores favoritos, como James Stewart, Humphrey Bogart e James Cagney, e todos tinham vozes singulares", disse. "Quando comecei a atuar, minha voz não era boa, então tive que treinar muito para impor ritmos, quebras e modulações a ela."

    Cage descobriu "Joe" em 2012, quando o diretor David Gordon Green (de "Prince Avalanche" e "Segurando as Pontas") enviou o roteiro ao agente do ator. Quatro dias depois, Cage telefonou para Green. No dia seguinte, o ator pegou um avião em Las Vegas, onde mora com sua mulher, Alice Kim, e o filho mais novo, Kal-El, 8, para encontrar Green em Austin, Texas. "Queria que ele soubesse o quanto fiquei entusiasmado", comentou Cage. Green estava empolgado de conhecer um ator cuja carreira ele seguia desde meados dos anos 1980. "Sei de cor as falas dele em 'Arizona Nunca Mais'", relatou Green.

    As filmagens começaram em novembro de 2012, com um elenco que incluía o dono de uma churrascaria local, trabalhadores avulsos e Tye Sheridan, 17, que interpretou um dos filhos de Brad Pitt em "A Árvore da Vida", de Terrence Malick. Em "Joe", Sheridan é Gary Jones, garoto bondoso cujo pai é um alcoólatra violento.

    Joe torna-se uma espécie de pai postiço, ensinando-o a tomar cerveja e a paquerar garotas.

    Para o papel de Wade Jones, o pai de Gary, Green escalou Gary Poulter, artista de rua, sem-teto e alcoólatra, que ele descobriu em Austin. Sua atuação foi elogiada, mas Poulter não chegou a ver o filme finalizado, pois se afogou em um lago após uma noite de bebedeira no ano passado.

    Há sempre histórias bizarras envolvendo Cage -por exemplo, que ele comprou castelos, ossos de dinossauro e duas ilhas. Ele prefere não fazer comentários sobre esses rumores, mas fala sobre a rotina de sua vida doméstica: levar seu filho à escola, malhar por duas horas na academia, almoçar fora com sua mulher, estudar os diálogos para seu próximo papel e buscar o menino na escola.

    Foi esse Nicolas Cage, não aquele que é notícia em tabloides, que Green conheceu no Texas. "Encontrei um artista com os pés no chão, um cavalheiro gentil que arregaça as mangas e se entrega ao trabalho." Posteriormente, Cage disse estar em busca de tranquilidade. "Certa vez, um amigo me aconselhou: 'Tenha a vida mais normal possível para poder ser contraditório o quanto quiser em sua arte'", disse.

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