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    Cantores latinos apostam no amor

    JON PARELES
    DO 'NEW YORK TIMES'

    15/04/2014 04h30

    O novo disco de Shakira tem declarações de amor que soam ao mesmo tempo inocentes e obsessivas.

    Graças a alguma coincidência, vários artistas latinos que lotam estádios e que tendem a levar anos entre um lançamento e outro emergiram quase simultaneamente com novos álbuns: Shakira e Juanes, ambos colombianos, o espanhol Enrique Iglesias e o rapper de reggaeton Wisin, de Porto Rico. Romeo Santos, o cantor dominicano de bachata que foi vocalista do Aventura durante 17 anos, também acaba de lançar seu segundo álbum solo gravado em estúdio.

    Todos os cinco discos trabalham com as exigências e possibilidades da criação musical em mais de um gênero e idioma. Além disso, todos têm um denominador internacional comum: as canções de amor.

    "Shakira" é um disco determinado a produzir sucessos, e quase todas as faixas são cantadas em inglês. É cheio de colaborações com compositores e produtores que já trabalharam com Justin Bieber, Britney Spears, One Direction e Carrie Underwood. O primeiro single do álbum, "Can't Remember to Forget You", tem participação de Rihanna e ritmos que vão do ska ao punk-pop.

    O álbum se desloca entre estilos, saltando de música dance eletrônica a reggae e de folk-pop a rock distorcido e a country. Mas as partes do álbum que nos fazem gostar de Shakira são os elementos singulares que ainda a diferenciam das cantoras pop norte-americanas: as quebras em sua voz, que fazem suas declarações de amor soar ao mesmo tempo inocentes e obsessivas, e as idiossincrasias de suas letras em inglês: 'You looked at me with your blue eyes/And my agnosticism turned into dust" ("você me olhou com seus olhos azuis/e meu agnosticismo virou pó").

    Ethan Miller/Getty Images/AFP
    A cantora Shakira em show em Las Vegas, no início de abril
    A cantora Shakira em show em Las Vegas, no início de abril

    "Sex and Love", de Enrique Iglesias, é tão genérico quanto seu título. O álbum conta com alguns dos mesmos colaboradores de seu trabalho anterior, "Euphoria", de 2010. As canções em inglês são uma lista de clichês verbais e musicais. Após seu sucesso de 2010 que incluiu um rap de Pitbull, "I Like It", agora há duas canções chamativas unidas por Pitbull. Outras canções em inglês incluem uma faixa de dance e uma que é fraturada por um dubstep suave. As canções de amor em espanhol são reforçadas por colaboradores como Romeo Santos, o compositor mexicano Marco Antonio Solís e o cubano Descemer Bueno.

    "El Regreso del Sobreviviente" é o primeiro álbum solo de Wisin em uma década e, como tal, deveria ser algo especial. Mas, não obstante todo o rol de colaboradores internacionais -incluindo Jennifer Lopez e Ricky Martin em "Adrenalina", o rapper haitiano Sean Paul em "Baby Danger", o cantor Chris Brown e, novamente, Pitbull-, o disco surpreende por soar batido.

    "Loco de Amor" é o sexto álbum de estúdio de Juanes e, antes de lançado, especulava-se que teria tudo para ser um fiasco em matéria de fusão de gêneros e idiomas. Como sugere o título, Juanes deixou suas preocupações sociais e filosóficas de lado para criar um álbum de canções de amor. Foi gravado em Hollywood e produzido por Steve Lillywhite, que não fala espanhol e já trabalhou com o U2, Peter Gabriel e Rolling Stones. Mas Juanes não criou um álbum de rock como o de outro músico, e sim o seu próprio.

    As canções às vezes são retro, com toques de Motown ou Bee Gees, enquanto outras fazem referências aos Kings of Leon ou Mumford & Sons. Mas elas também recorrem a ritmos como o samba brasileiro e a champeta colombiana. Os sintetizadores estão presentes, mas há também o som brilhante de trechos tocados no "tiple", violão colombiano. A maior parte de "Loco de Amor", especialmente a faixa-título, soa como se o músico quisesse se revitalizar.

    Romeo Santos descobriu como deixar que o "crossover" (mistura de gêneros) chegue a ele. Mas, em "Formula Vol. 2", mais do que em seu álbum de estreia, ele se atém quase inteiramente à bachata. Esta é uma tradição de austeridade quase milagrosa -uma voz, violões em "stacatto", percussão leve -, e Santos se recusa a incluir mais elementos ou um baixo. Mesmo quando aparecem convidados, como Carlos Santana, no violão ou rappers, como Nicki Minaj e Drake, eles geralmente ficam entre os violões expressivos da bachata, embora Santos faça um dueto com Marc Anthony em ritmo de salsa.

    Fiéis à tradição da bachata, as canções falam de amor. Mas, no meio do álbum, encontramos "No Tiene La Culpa", cuja letra se solidariza com um gay que sofre agressões constantes. É um momento corajoso de consciência social em meio a todo o desejo e as intrigas expressos em frases elegantes. "Formula Vol. 2" foi para o primeiro lugar na parada latina, e Romeo Santos será a atração principal no Yankee Stadium em 12 de julho, num show cujos ingressos acabaram tão rapidamente que outro foi marcado para 11 de julho, também no Yankee Stadium. Alguma coisa ele está fazendo certo.

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