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    Livro mostra lado 'Downton Abbey' de 'Orgulho e Preconceito'

    ISABELLE MOREIRA LIMA
    DE SÃO PAULO

    16/04/2014 14h05

    Quantas adaptações o romance "Orgulho de Preconceito" (1813) de Jane Austen (1775-1817) já recebeu? Quantas Elizabeths já vimos relutar e por fim cair de amores pelo senhor Darcy? Em "As Sombras de Longbourn" não é exatamente isso o que se vê.

    Escrito pela inglesa Jo Baker, o livro traz o outro lado do célebre romance de Austen. É situado na propriedade da família Bennet, mas em vez de contar a história da família e de seus dramas românticos, mostra a vida de seus empregados, seu cotidiano, dramas e aspirações.

    Baker conta que relê "Orgulho e Preconceito" desde que tem 12 anos. "Mas eu sempre soube que não pertencia àquele universo. Minha avó e suas irmãs eram trabalhadoras, o que me fez achar que se vivesse naquele tempo eu não iria ao baile. Ficaria na lavanderia", disse em entrevista à Folha.

    Segundo ela, foi essa proximidade que a deixou alerta para a presença dos empregados no livro -e especialmente para as ausências.

    Reprodução/Facebook/jobakerwriter
    A escritora Jo Baker, autora de 'As Sobras de Longbourn
    A escritora Jo Baker, autora de 'As Sobras de Longbourn'

    "Longbourn" pode ser visto como o lado "Downton Abbey", série de TV que mostra os contrastes entre as vidas de aristocratas e seus serviçais, do universo de Jane Austen, mas de uma maneira mais crua e gráfica.

    Baker dá descrições longas sobre os ferimentos nas mãos das empregadas. "Se Elizabeth lavasse suas próprias anáguas, pensava Sarah com frequência, com certeza teria muito mais cuidado com elas", escreve, em uma das passagens mais comentadas pela crítica internacional.

    "Acho que esse é o ponto que amarra o mundo de Austen e o mundo de 'Longbourn'. Quando estava escrevendo esse também foi o ponto que me fez entender como o livro funcionaria", afirma.

    Para escrevê-lo, a autora, que estudou literatura irlandesa e foi redatora da BBC Radio 4, se dedicou a uma pesquisa que incluiu livros, entrevistas, receitas e remédios da época.

    "Eu experimentei alguns deles em casa —eu limpo o piso de madeira da minha casa com chá gelado, pra ser sincera. As cartas de Austen também foram muito valiosas, cheias de fofoca e detalhes da vida cotidiana. "

    O livro atraiu a atenção da crítica, integrou a lista dos mais notáveis de 2013 do "New York Times" e a dos mais bem-vendidos também. Será adaptado para o cinema em uma empreitada da Random House Films e da Focus Features.

    "Eu trabalhei intensamente no romance e me dediquei ao processo sem me preocupar com o que os fãs de Austen achariam. Quando começaram as ofertas internacionais e nós vendemos os direitos do livro para filme foi que me dei conta e pensei: 'Ai meu Deus! O que que eu fiz?'"

    Mas, mesmo sem se preocupar com os fãs da criadora de "Orgulho e Preconceito", Baker diz que se preocupava com a fidelidade aos personagens. A seu ver, mais que uma adaptação, seu livro é uma "interpretação" da obra de Austen.

    "Sempre tive muita consciência de a família Bennet eram os personagens de Austen. Mas eu também sabia que tinha que olhá-los de uma perspectiva de diferente: a dos empregados, que eram os meus personagens."

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