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    Em debate, Leonardo Padura compara jornalismo atual a McDonald's

    DE SÃO PAULO

    15/04/2014 23h00

    Durante debate na noite desta terça (15), em São Paulo, o escritor e jornalista cubano Leonardo Padura, colunista da Folha, comparou o jornalismo atual a redes de fast food.

    "Com o jornalismo está acontecendo o mesmo que com McDonald's e Burger King, está se convertendo num ofício em que tudo sai igual e todos têm o mesmo aspecto", disse Padura, ao responder a uma questão sobre sua atividade como jornalista, menos conhecida que a como escritor.

    No teatro do Sesc Consolação, região central de São Paulo, Padura respondeu durante uma hora e meia a perguntas do público, do mediador Kim Doria (da editora Boitempo) e de três debatedores: o historiador e professor Gilberto Maringoni, o escritor Ricardo Lísias e a repórter especial da Folha Sylvia Colombo.

    Jorge Araujo/Folhapress
    O escritor cubano Leonardo Padura, em debate no Sesc Consolação, em São Paulo
    O escritor cubano Leonardo Padura, em debate no Sesc Consolação, em São Paulo

    O cubano veio ao Brasil divulgar o seu romance "O Homem que Amava os Cachorros" (Boitempo), thriller histórico sobre o assassinato do líder comunista Leon Trotski na cidade de México e sobre a vida em Cuba do assassino, Ramón Mercader.

    Padura reconheceu ser impossível viver sem internet ("Venho de um país pré-informático, onde internet é movida a carvão"), mas disse que a disseminação de blogs e informação sem edição está igualando todos os veículos.

    Discorreu sobre literatura policial (citou entre seus autores favoritos no gênero o brasileiro Rubem Fonseca) e sobre a criação de "O Homem que Amava os Cachorros".

    "Esse romance me perseguiu por muitos anos. Quando estava na universidade [em Cuba], quis saber mais sobre Trotski, mas meus professores nada falavam, na biblioteca só havia dois livros sobre Trotski, ambos editados na Rússia, um era 'Trotski, o Falso Profeta', o outro era 'Trotski, o Traidor'", contou, provocando risos na plateia.

    "Em Cuba, os trotskistas que existiram foram eliminados como baratas, quase não restou pensamento trotskista."

    "Depois descobri que Ramón Mercader viveu os quatro últimos anos de sua vida em Cuba. Saber que em algum momento de minha vida posso ter cruzado com Ramón Mercader em alguma rua de Havana foi algo que também mexeu com minha cabeça."

    VIVER EM CUBA

    Padura fez críticas ao modelo de socialismo soviético que norteou regimes como o de Cuba ("Stálin perverteu a utopia de uma sociedade igualitária") e explicou por que se mantém vivendo em Cuba, mesmo tendo adquirido recentemente passaporte espanhol (sua editora é espanhola).

    "Porque sou um escritor cubano, nunca vou ser um escritor espanhol, e um escritor é resultado de sua cultura e de sua experiência. Não somente a tem como indivíduo, mas como parte de um coletivo humano, do qual é uma forma de expressão. O escritor cubano tem responsabilidade de, se tem o poder da palavra, utilizar essa palavra com fins cidadãos,e é importante sublinhar a frase —não estou falando com fins políticos, é com fins cidadãos", disse e foi aplaudido.

    PAULO COELHO E DAN BROWN

    Num dos momentos mais descontraídos da noite, Padura fez troça com os escritores de best-sellers Paulo Coelho e Dan Brown.

    "Escrever livros como Paulo Coelho e Dan Brown é difícil, não existem muitos que escrevam um romance tão horrível como "O Código Da Vinci". Há que se fazer saber má literatura para conseguir vender muito livro", afirmou, para risadas da plateia.

    POLICIAL LITERÁRIO

    Nascido em 1955 em Havana, Padura é um dos grandes escritores cubanos vivos. Notabilizou-se por seus romances policiais de estilo literário –é criador do detetive Mario Conde, protagonista de obras como "Ventos de Quaresma" e "Adeus, Hemingway".

    Jornalista e ensaísta, é também um leitor refinado da realidade cubana. Padura faz uma defesa crítica da ditadura comunista que governa a ilha desde 1959 —nem é dissidente nem enquadrado.

    Com uma obra que mistura suspense e thriller policial à realidade da Cuba atual, Padura é autor de mais de uma dezena de livros, entre romances, contos, ensaios e jornalismo.

    No Brasil, além de "O Homem que Amava os Cachorros" (Boitempo), Padura publicou outros cinco livros: 'A Neblina do Passado' (Benvirá), 'Máscaras', 'Ventos de Quaresma', Passado Perfeito' e 'Adeus, Hemingway' (os quatro últimos pela Companhia das Letras).

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